Acervo, Rio de Janeiro, v. 37, n. 1, jan./abr. 2024

Memória e história: potências e tensões nos usos de acervos privados | Dossiê Temático

Potencialidades e limites do arquivo privado pessoal de Graziela Maciel Barroso, professora e pesquisadora de botânica

Potential and limits of the private personal archive of Graziela Maciel Barroso, a botany teacher and researcher / Potencialidades y límites del archivo privado personal de Graziela Maciel Barroso, profesora e investigadora de botánica

Júlia Fialho Soares

Mestra em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Brasil.

juliafsoares@edu.unirio.br

Nailda Marinho da Costa

Doutora em Educação na área de História, Filosofia e Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Brasil.

nailda.costa@unirio.br

Resumo

O artigo tem como objetivos apresentar o Arquivo Graziela Maciel Barroso, que está depositado no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e discutir suas potencialidades e seus limites como guardião de memórias e fonte para pesquisas acadêmicas, principalmente na história da educação e na história das mulheres. Sua titular foi uma professora e pesquisadora de botânica brasileira que viveu entre 1912 e 2003.

Palavras-chave: mulheres na educação; mulheres e educação superior; mulheres cientistas; pesquisa documental.

Abstract

This article presents the Graziela Maciel Barroso Archive, which is deposited at the Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, and discusses its potential and limits as a keeper of memories and a source for academic research, especially in History of Education and Women’s History. Its owner was a Brazilian professor and Botany researcher who lived between 1912 and 2003.

Keywords: women in education; women and higher education; women scientists; archive research.

Resumen

Los objetivos de este artículo son presentar el Archivo Graziela Maciel Barroso, conservado por el Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, y discutir su potencial y sus límites como guardián de la memoria y fuente para la investigación académica, especialmente en Historia de la Educación e Historia de las Mujeres. Su propietaria fue una profesora e investigadora de Botánica brasileña que vivió entre 1912 y 2003.

Palabras clave: mujeres en la educación; mujeres y educación superior; mujeres científicas; investigación documental.

Os arquivos privados1 pessoais têm sua importância reconhecida por quem faz pesquisa historiográfica desde a década de 1970. Angela Maria de Castro Gomes (1998) defende que tal contexto está associado a significativas transformações teóricas e práticas no campo historiográfico, decorrentes principalmente das contribuições da história cultural, as quais levaram “a uma revalorização do indivíduo na história e, por isso, a uma revalorização da lógica de suas ações” (p. 122). Dessa maneira, por guardar memórias de indivíduos, isto é, de sujeitos históricos, e por se constituir como fonte para pesquisas acadêmicas acerca deles e dos contextos nos quais se inseriram e atuaram, esses arquivos passaram a apresentar valor histórico, cultural, político, social e educativo (Svicero, 2013).

Entretanto, mesmo que sejam cada vez mais comuns, ainda se faz necessário incentivar e defender a criação, a existência e a preservação deles. São inúmeros os relatos acerca de arquivos privados pessoais que são descartados ou que ficam sob a responsabilidade de pessoas não especializadas em sua salvaguarda (Bacellar, 2008). Além disso, a maioria dos que existem possuem como titulares homens, pois, conforme salienta Joan Scott (2011), ao mesmo tempo em que eles recebiam prioridade na historiografia tradicional que predominou por tanto tempo, as mulheres eram excluídas, apagadas, por não serem consideradas historicamente importantes. Para Michelle Perrot (1989, p. 9), “essa ausência no nível da narrativa se amplia pela carência de pistas no domínio das ‘fontes’ com as quais se nutre o historiador, devido à deficiência dos registros primários”. A autora acrescenta a essa discussão que, justamente por serem consideradas inferiores, as mulheres não eram incentivadas e não costumavam guardar seus documentos, suas memórias, e, quando o faziam, esses materiais eram descartados, contribuindo para o apagamento das fontes sobre elas (Perrot, 2007).

Dentre os poucos arquivos privados pessoais de titulares mulheres que se conhece, possivelmente a maioria é de mulheres públicas e/ou intelectuais. Podemos destacar o arquivo de Bertha Lutz como parlamentar, depositado no Arquivo Histórico da Câmara dos Deputados,2 e a documentação sobre ela presente no Fundo3 Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), contido no acervo do Arquivo Nacional, este último deixando evidente que a “trajetória de Bertha se confunde com a própria trajetória da FBPF” (Bonato, 2005). Já Azevedo et al. (2020), ao investigar no acervo arquivístico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre mulheres que trabalharam no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), entre as décadas de 1930 e 1970, nas mais diversas funções, como na assistência hospitalar, no ensino, no apoio técnico e na produção de insumos, como costureiras e copeiras, descobriram que há muitas mulheres silenciadas. Nesse acervo arquivístico, os registros sobre a maioria delas se limitam ao nome e à atividade que exerciam. As pesquisadoras, entretanto, dispõem “de um número maior e variado de registros, como currículos, notícias de jornal, publicações, fotografias, documentos textuais, obituários, e até mesmo entrevistas” (Azevedo et al., 2020, p. 168). Três delas, Dirce Lacombe, Dely Noronha e Hortênsia de Hollanda, possuem fundos pessoais próprios, enquanto as demais apresentam registros dispersos em diferentes acervos, especialmente nos 81 arquivos privados pessoais cujos titulares são homens.

Um outro exemplo de arquivo privado pessoal de uma mulher é o Arquivo Graziela Maciel Barroso (AGMB), depositado no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Constitui-se como fonte privilegiada da pesquisa de doutorado da primeira autora desse artigo, cujo objetivo é investigar a trajetória da botânica Graziela Maciel Barroso (1912-2003), tendo como foco sua atuação como professora e, entendendo, como Perrot, que “escrever a história das mulheres é sair do silêncio em que elas estavam confinadas” (2007, p. 16). Cabe destacar que o AGMB se encontra organizado e conta com um instrumento de pesquisa arquivística4 para recuperação da informação, isto é, um inventário documental, publicado em 2014, sobre o qual falaremos adiante.

Como é um arquivo pouco conhecido, com particularidades, e que precisa ser mais divulgado e valorizado em função do contexto explicitado, nos propomos, nesse artigo, a apresentá-lo e a discutir algumas de suas potencialidades e limites como guardião de memórias e como fonte para pesquisas acadêmicas, na área de botânica e sua articulação com a de educação, principalmente no âmbito da história da educação e da história das mulheres no ensino superior. Além dessa introdução, o artigo conta com mais três seções intituladas “Apresentando o Arquivo Graziela Maciel Barroso (AGMB) e sua titular”, “Potencialidades do AGMB como fonte de memórias para a pesquisa”, “Limites do AGMB para a realização de pesquisas acadêmicas e sugestões para revitalizá-lo”, além das considerações finais.

Apresentando o Arquivo Graziela Maciel Barroso (AGMB) e sua titular

Consta na apresentação do inventário documental do Arquivo Graziela Maciel Barroso (2014) que o “projeto de reunir e organizar o arquivo pessoal de Graziela Maciel Barroso busca divulgar e, ao mesmo tempo, preservar a memória de uma cientista e mestra que marcou a geração de botânicos da segunda metade do século XX” (p. 4). Graziela Maciel Barroso (Figura 1) nasceu em 11 de abril de 1912 em Corumbá, atual estado do Mato Grosso do Sul,5 e faleceu no município do Rio de Janeiro, em 5 de maio de 2003. Em 1944, iniciou sua carreira na botânica através da contratação para a “função de separador de sementes” do Horto Florestal da Gávea.6 Em janeiro de 1946, foi nomeada para exercer o cargo de naturalista do quadro permanente do Ministério da Agricultura, após ser aprovada em concurso público, passando a trabalhar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.7 As fontes indicam que foi a primeira mulher naturalista concursada8 dessa instituição. Em 1959, iniciou sua graduação em história natural na Universidade do Estado da Guanabara (UEG, atual Uerj – Universidade do Estado do Rio de Janeiro) , concluída em 1961. Em 1973, tornou-se doutora em ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Seu trabalho como pesquisadora e professora foi e é reconhecido nacional e internacionalmente. Publicou inúmeros artigos científicos, além de livros tidos como referências para estudantes, pesquisadoras e pesquisadores de botânica no Brasil. Após tornar-se doutora, sua atuação profissional ficou ainda mais intensa, já que passou a orientar discentes de mestrado e doutorado em diversas instituições. Ademais, ministrava disciplinas, cursos e palestras na graduação e pós-graduação e em eventos científicos, especialmente congressos nacionais de botânica. Em função de sua vasta experiência, recebeu muitos prêmios e homenagens, como a condecoração na Academia Brasileira de Ciências (ABC), em 2003, que infelizmente ocorreu logo após seu falecimento.


Figura 1 ‒ Graziela Maciel Barroso ministrando uma aula em um encontro de botânicos, em 1986. Fonte: AGMB/JBRJ, JBRJ.GMB.ICON.TPR.18

O AGMB está depositado na sala 104 do prédio da Diretoria de Pesquisas do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Dipeq/JBRJ), e seu inventário documental original foi publicado em fevereiro de 2014, estando disponível em papel impresso no próprio arquivo. Contém, além do inventário dos documentos na forma de ficha, informações preciosas acerca da história de criação e consolidação do AGMB, tais como a equipe que executou o projeto, uma breve apresentação com seus objetivos e agradecimentos a outras(os) colaboradoras(es), um esboço biográfico da titular, uma descrição técnica do arquivo, um quadro de arranjo dos seus documentos e explicações sobre o banco de dados on-line do AGMB, acerca do qual falaremos posteriormente. Cada ficha do inventário corresponde a um dossiê em sua respectiva série e subsérie. E cada dossiê pode conter um ou mais documentos.

A coordenadora do projeto foi a historiadora Begonha Bediaga, vinculada ao próprio JBRJ. Através de convênio com o Arquivo Nacional, a arquivista Beatriz Moreira Monteiro atuou na supervisão das tarefas de organização, descrição e conservação de documentos com base nas normas arquivísticas internacionais. Já o arquivista especialista em conservação de papel José Carlos Camello da Costa orientou o uso de técnicas adequadas no acondicionamento e na confecção de invólucros apropriados à conservação do acervo. Inicialmente, sua assessoria foi possível em decorrência de parceria com a Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas ele assumiu essas tarefas como voluntário a partir do momento em que se aposentou. Além desses profissionais, o projeto contou com o auxílio do técnico de informática Bruno Augusto de Farias e do analista de sistemas Luís Alexandre Estevão da Silva, ambos vinculados ao JBRJ, do estagiário de informática do JBRJ, Marcos Gabriel Mannarino, de Maria Eugênia Bastos, bolsista de apoio técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da bolsista do Laboratório Social do JBRJ, Victoria Matheus. O projeto também dispôs do apoio de Marli Pires Morim, Ariane Luna Peixoto e do então diretor da Dipeq, Rogério Gribel, “que destinou uma sala exclusiva para guarda de acervos documentais dos cientistas da instituição com vistas a preservar os arquivos pessoais, dentre os quais os de Graziela Maciel Barroso” (Inventário Documental do Arquivo Graziela Maciel Barroso, 2014, p. 4).

A maior parte do arquivo corresponde a documentos guardados por Marli Pires Morim e Ariane Luna Peixoto durante os anos em que trabalharam com Graziela, mas há documentos avulsos que foram doados por ex-alunas(os) e outras(os) colegas da titular, assim como outros que foram recolhidos por Ariane após o falecimento dela, com o consentimento de sua família. “A titular não tinha o hábito de organizar seus documentos e, assim, o acervo encontrava-se sem nenhum tipo de arranjo documental” (Inventário Documental do Arquivo Graziela Maciel Barroso, 2014, p. 14). Dessa maneira, foram organizados em séries, subséries e dossiês e, dentro dos dossiês, dispostos em ordem cronológica. Essa organização permanece até hoje. As séries são: Documentos Pessoais, Correspondências, Produção Intelectual da Titular, Trajetória Profissional, Homenagens, Produção Intelectual de Terceiros, Documentos Impressos e Iconografia, sendo que esta última foi organizada após a publicação do inventário documental impresso.

Consta no inventário documental que a entrada do acervo no JBRJ se deu entre 2004 e 2013 e que ele totalizava 3,77 metros lineares de dimensão. Mas há uma anotação a lápis indicando que houve entradas até 2015. Os documentos têm como datas-limite 1938-2004, sendo que a maioria está guardada “em caixas de papelão com reforço em polionda em invólucros de papel de pH neutro” (Inventário Documental do Arquivo Graziela Maciel Barroso, 2014, p. 16). Cadernos e outros suportes que contam com plantas secas coladas ou adesivadas estão armazenados nessas caixas, mas em envelopes de poliéster, para que os vegetais não fiquem separados dos textos relacionados. Documentos que extrapolam as dimensões das caixas de papelão foram armazenados separadamente, também em envelopes de polionda. Há, também, alguns objetos tridimensionais guardados em caixas de papelão ou gavetas.

Na série Documentos Pessoais, é possível encontrar o título de eleitor e a identidade da titular; livros pessoais; agendas; documentos relacionados ao seu esposo, Liberato Joaquim Barroso, ao seu filho, Manfredo Liberato Barroso, e à sua filha, Mirtilla Liberato Barroso; documentos financeiros; documentos religiosos; contratos relacionados a livros que publicou; versões de seu currículo; alguns certificados de cursos e palestras que ministrou e de eventos dos quais participou; seu diploma de doutorado; dentre outros. A série Correspondência é dividida nas subséries Correspondências da Titular, englobando cartas tanto de cunho pessoal como profissional escritas por Graziela; e Correspondência de Terceiros, que, como a própria denominação indica, contém cartas de terceiros guardadas pela titular.

A série Produção Intelectual da Titular é dividida em sete subséries. A subsérie Trabalhos Publicados apresenta principalmente rascunhos e versões preliminares de alguns dos seus trabalhos; a subsérie Estudos e Traduções conta com materiais manuscritos, dentre os quais predominam os cadernos de estudos acerca de diferentes conteúdos de botânica (inclusive com fragmentos de vegetais), os cadernos de estudo de idiomas e as traduções de artigos e outras obras, mas também alguns textos sobre temas relacionados à botânica e ao JBRJ, ilustrações botânicas com anotações, dentre outros; a subsérie Leituras apresenta apenas um dossiê, com anotações e textos sobre enfermidades mentais e outros assuntos; a subsérie Cursos, Aulas e Palestras conta com textos manuscritos, datilografados ou impressos, além de transparências para retroprojetor e de outros materiais relacionados a aulas, palestras e cursos planejados e ministrados; a subsérie Autobiografia apresenta dois dossiês, sendo um deles correspondente a um texto, em versão manuscrita e datilografada, com informações sobre sua trajetória, para palestra a ser proferida em uma disciplina de pós-graduação, e o outro, um texto manuscrito com perguntas e respostas sobre sua trajetória; a subsérie Outros conta com dois dossiês, um deles com um breve texto manuscrito sobre a criação de uma seção de tirar dúvidas na Sociedade Brasileira de Botânica, e o outro correspondente ao necrológico de Dimitri Sucre escrito pela titular; por último, a subsérie Entrevistas apresenta uma conversa com Graziela publicada no Caderno de Geociências. Constatamos que a maioria dos artigos publicados por ela tem pelo menos uma cópia armazenada no AGMB e, também, digitalizada e disponível na página do JBRJ referente à coleção arquivística de Graziela Maciel Barroso, sobre a qual falaremos posteriormente.9 Há duas caixas com esse conteúdo no arquivo, mas não encontramos seus códigos de referência no inventário documental.

A série Trajetória Profissional apresenta oito subséries. A primeira, Horto Florestal, conta com apenas um dossiê, no qual está armazenado o documento original da admissão da titular para o Horto Florestal da Gávea na “função de separador de sementes”; a subsérie Jardim Botânico apresenta documentos relacionados ao seu trabalho como naturalista do JBRJ, incluindo sua nomeação para esse cargo, documentos sobre a renovação de incentivos funcionais por produção científica, sobre sua designação para a Comissão Permanente de Publicações e para a função gratificada de chefe da Seção de Botânica Sistemática, dentre outros; a subsérie CNPq-Bolsista conta com documentos relacionados ao seu vínculo como bolsista, tais como relatórios de viagem e de projetos, pedidos de verba para viagem, versões de seu currículo, algumas correspondências, dentre outros; na subsérie Programas de Pós-Graduação e Participação em Bancas há manuscritos da titular com relação de pesquisadoras(es) orientadas(os) aprovadas(os) com distinção, formulários da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com informações sobre disciplinas que ministrou, atas de defesa de teses e dissertações, convites, ofícios, memorandos e declarações de participação em bancas examinadoras de concursos, certificados de participação em eventos e de ministrante de cursos e palestras, além de duas certidões oficiais, oriundas da Uerj, comprovando a realização e a conclusão da graduação e apresentando algumas informações acerca do curso de história natural e dos documentos relacionados aos cargos de professora e coordenadora do Departamento de Botânica, que desempenhou na Universidade de Brasília (UnB), dentre outros; a subsérie Parecerista conta tanto com solicitações para que a titular avalie trabalhos submetidos a revistas científicas quanto avaliações que fez; a subsérie Universidade de Brasília contém um dossiê com certificados de participação em eventos, mas em sua capa consta que pertence à subsérie Outros; a subsérie Consultora contém apenas um dossiê, com uma ordem de serviço do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nomeando a titular como consultora em um grupo de trabalho sobre herbários;10 por fim, a subsérie Outros não apresenta documentos registrados no inventário documental.

A série Homenagens é composta por documentos diversos correspondentes a reconhecimentos feitos à titular do arquivo, produzidos antes e depois de seu falecimento. A série Produção Intelectual de Terceiros apresenta principalmente planos de trabalho e rascunhos de publicações, dissertações e teses de pesquisadoras(es) orientadas(os) pela titular, assim como um texto biográfico impresso, cujo título é “Graziela: uma memória viva”, escrito por sua filha, Mirtilla Liberato Barroso, além de outros textos biográficos sobre Graziela, escritos por outras pessoas. Na série Documentos Impressos, encontram-se tanto matérias e reportagens a respeito de Graziela ‒ a maioria contando apenas com o recorte correspondente da revista ou jornal de onde foi retirada ‒, apresentando data e informações editoriais, como algumas entrevistas que concedeu e textos (auto)biográficos breves. Por fim, a série Iconografia é composta por fotografias distribuídas nas subséries Documentos Pessoais, Trajetória Profissional, Homenagem, Produção Intelectual de Terceiros e Produção Intelectual da Titular, muitas das quais apresentando dedicatórias, datas, outros tipos de anotação e, algumas, identificação das pessoas fotografadas. Além de todos esses documentos, encontramos medalhas, placas e outras condecorações armazenadas em gavetas de um móvel presente no AGMB, as quais não estão catalogadas no inventário documental.

É possível acessar algumas informações acerca do AGMB de modo virtual, na página do JBRJ dedicada à coleção arquivística de Graziela Maciel Barroso, mais especificamente na aba Assuntos, em seguida na opção Coleções, na aba Arquivísticas e, por fim, na opção Graziela Maciel Barroso.11 Nessa página, estão reproduzidas algumas informações presentes no inventário documental impresso, tais como o esboço biográfico da titular e a cronologia com alguns momentos de sua vida. Mas também há alguns depoimentos de outros profissionais a respeito dela e uma listagem de suas produções científicas, contando inclusive com o arquivo em formato PDF da maioria dos artigos. Há uma seção específica com explicações breves sobre o AGMB, intitulada Arquivo pessoal, na qual é possível acessar o inventário documental (apenas com as fichas dos dossiês) em formato PDF e o link para a página do banco de dados do AGMB, anteriormente citado. Mais abaixo, há uma aba intitulada “Banco de Dados AGMB”, portanto específica para ele, na qual constam informações sobre como utilizá-lo, além de uma explicação detalhada da organização do AGMB em séries, subséries e dossiês, com seus títulos e siglas.

No banco de dados do AGMB disponível para consulta on-line,12 é possível consultar todos os dossiês registrados que fazem parte do arquivo, tanto no formato de tabela como no de fichas idênticas às do inventário documental impresso. A Figura 2 apresenta a interface da página inicial desse banco de dados, com uma simulação da pesquisa através do preenchimento dos campos série e código. É possível realizá-la selecionando a série ou a subsérie do(s) documento(s) desejado(s) e, facultativamente, preenchendo os outros campos, como dossiê, conteúdo, localização, nota e código de referência do dossiê. Nesse caso, escolhemos apenas um documento, mas é possível, por exemplo, pesquisar uma série ou subsérie inteira, ou, não preenchendo nenhum campo e clicando em Pesquisar, visualizar a tabela de todo o inventário documental de uma vez.


Figura 2 ‒ Interface da página inicial do banco de dados on-line do AGMB. Fonte: https://agmb.jbrj.gov.br/pesquisa.php

A Figura 3 apresenta algumas colunas da tabela gerada a partir dessa pesquisa, assim como a caixa para seleção do(s) item(ns) desejado(s) e o ícone Gerar ficha, que possibilita fazer download da ficha pré-selecionada. A opção Galeria de fotos na primeira coluna indica que esse material está digitalizado, bastando clicar para acessar a(s) imagem(ns) correspondente(s). Convém destacar que essa tabela gerada no banco de dados apresenta ainda mais informações que as fichas.


Figura 3 ‒ Parte de tabela gerada a partir de pesquisa no banco de dados on-line do AGMB, com o preenchimento dos campos série e código, como consta na Figura 2. Fonte: https://agmb.jbrj.gov.br/pesquisa.php.

A Figura 4 mostra uma ficha gerada para um dossiê a partir da tabela mostrada na Figura 3. Essa ficha é igual à presente no inventário documental impresso. Podemos perceber que apresenta campos com as principais informações que permitem a identificação desse dossiê, isto é, código, série, subsérie, localização no AGMB, dossiê, conteúdo (apresenta uma descrição do teor do(s) documento(s)), nota (diz respeito a uma anotação complementar ao que consta no conteúdo), local de produção e data de produção do(s) documento(s), quantidade de itens e número de páginas. O código sintetiza as informações de catalogação. No exemplo apresentado, JBRJ.GMB.ICON.TPR.18, JBRJ se refere ao próprio Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, GMB, ao Arquivo Graziela Maciel Barroso, ICON, à série Iconografia, TPR, à subsérie Trajetória Profissional, e o número 18 identifica o dossiê. Esse dossiê em específico apresenta apenas um item, ou seja, uma fotografia.


Figura 4 ‒ Ficha gerada no banco de dados on-line do AGMB, a partir de seleção de item na tabela exemplificada na Figura 3. Fonte: https://agmb.jbrj.gov.br/pesquisa.php

Estão disponíveis nesse banco de dados os documentos catalogados no AGMB que já foram digitalizados, isto é, os registrados nas séries Documentos Impressos e Iconografia. Os bancos de imagens, conforme indica Bonato (2004), auxiliam a preservar o suporte original desses documentos, já que o acesso se dá através das ferramentas tecnológicas e não pelo manuseio direto dos originais. A utilização dessas e de quaisquer outras imagens de documentos do AGMB só é permitida mediante autorização concedida pelas responsáveis por este arquivo.

Na próxima seção, discutiremos algumas das potencialidades do AGMB como guardião de memórias e, principalmente, como fonte para pesquisas no âmbito da história da educação e da história das mulheres, como é o caso da pesquisa de doutorado citada.

Potencialidades do AGMB como fonte de memórias para a pesquisa

O objetivo pensado inicialmente para o AGMB foi, conforme já explicitado, divulgar e preservar a memória de sua titular, em função de suas contribuições como cientista e professora, especialmente para a geração de botânicos e botânicas da segunda metade do século XX. Oportunizar o acesso às memórias, tanto profissionais quanto pessoais, de/sobre uma mulher pesquisadora, professora, é a primeira potencialidade desse arquivo privado pessoal que queremos ressaltar. Nós o compreendemos, portanto, como um guardião de memórias, tomando emprestada de Angela de Castro Gomes (1996, p. 21) a explicação sobre esse conceito:

O guardião ou o mediador, como também é chamado, tem como função primordial ser um “narrador privilegiado” da história do grupo a que pertence e sobre o qual está autorizado a falar. Ele guarda/possui as “marcas” do passado sobre o qual se remete, tanto porque se torna um ponto de convergência de histórias vividas por muitos outros do grupo (vivos e mortos), quanto porque é o “colecionador” dos objetos materiais que encerram aquela memória. Os “objetos de memória” são eminentemente bens simbólicos que contêm a trajetória e a afetividade do grupo. Sejam documentos, fotos, filmes, móveis, pertences pessoais etc., tudo tem em comum o fato de dar sentido pleno, de “fazer viver” em termos profundos o próprio grupo. Tais objetos podem ser, assim, um bom exemplo do que Pierre Nora consagrou, em sua metodologia, com a designação de “lugares de memória”.

Ao ler tal definição, é plenamente possível imaginar esse guardião como sendo o AGMB, e a história e as memórias sobre as quais está autorizado a falar como as de Graziela e, claro, as dos grupos e contextos em que ela esteve inserida. Nesse sentido, tudo o que se encontra nesse arquivo pode ser compreendido como “objeto de memória”. É por isso que, dentre outras razões, vem recebendo visitantes, ao longo de sua existência, em busca de fotografias e outras informações para a elaboração de matérias, textos de divulgação e palestras sobre a trajetória de Graziela, ou simplesmente com curiosidade para saber mais sobre sua vida, seu legado.

A segunda potencialidade, que se desdobra em muitas e que se relaciona com a anterior, corresponde a um objetivo não explicitado no inventário documental, mas que vem sendo colocado em prática. Encontramos uma dissertação, O papel educativo dos jardins botânicos: análise das ações educativas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, de Maria Paula Correia de Souza (2009), em que é analisado um roteiro de excursão ao JBRJ, elaborado por Graziela, presente no AGMB. E a pesquisa de doutorado com a qual este artigo se relaciona, a primeira especificamente sobre a trajetória de Graziela, tem o arquivo como fonte privilegiada e indispensável. Portanto, podemos dizer que esse arquivo privado pessoal vem se consolidando como fonte e objeto de pesquisa. Abaixo, apresentaremos desdobramentos dessa potencialidade, especialmente no âmbito da história da educação e da história das mulheres de/no ensino superior, por meio da contextualização de alguns dos documentos que temos acessado.

Quem visita esse ou qualquer outro arquivo privado pessoal, lida, interage com memórias, correndo o feliz risco de, ao abrir as inúmeras caixas, sentir o encantamento pelo conteúdo que guardam. Mas não podemos nos perder nesse encantamento. É ideal que qualquer pessoa tenha um olhar crítico para essas memórias, isto é, para os documentos que as portam, mas somos nós, pesquisadoras(es), que devemos estar habituadas(os) a essa conduta mais que metodológica, ética. Conforme bem esclarece Gomes (1998, p. 125),

por guardar uma documentação pessoal, produzida com a marca da personalidade e não destinada explicitamente ao espaço público, ele [o arquivo privado] revelaria seu produtor de forma “verdadeira”: aí ele [o produtor do arquivo] se mostraria “de fato”, o que seria atestado pela espontaneidade e pela intimidade que marcam boa parte dos registros. A documentação dos arquivos privados permitiria, finalmente e de forma muito particular, dar vida à história, enchendo-a de homens e não de nomes, como numa histoire événementielle. Homens que têm a sua história de vida, as suas virtudes e defeitos e que os revelam exatamente nesse tipo de material.

Para o historiador, um prato cheio e quente. E acredito que, para ser degustado com o prazer que pode proporcionar, os historiadores devem se municiar dos nada novos procedimentos de crítica às fontes, guarnecidos com escolhas teóricas e metodológicas capazes de filtrar o calor, de maneira a não ter a boca queimada.

Percebemos que o contato com a documentação do AGMB tem representado uma oportunidade de aprendizado constante desses procedimentos de crítica às fontes. Não só porque vamos adquirindo experiência nessa prática com o passar do tempo, mas porque cada arquivo apresenta suas particularidades e porque o que parece ser importante de ser criticado na atualidade não o foi antigamente e pode não ser no futuro. A citação alerta os historiadores sobre essa temática, mas qualquer pesquisador(a), independentemente de sua formação, deve estar atento a ela, especialmente em um arquivo multidisciplinar, denso e cuja(o) titular é uma pessoa pública, como é o caso do AGMB.

A pesquisa de doutorado nos leva a Graziela e ao seu trabalho como botânica e professora nesta área, já que as fontes levantadas nesse arquivo privado pessoal guardam memórias de seu pensar e de seu fazer durante sua trajetória pessoal e profissional. Ainda sobre essa prática, Demerval Saviani defende que os pesquisadores devem estar alertas aos instrumentos de pesquisa elaborados pelas instituições de guarda, pois se, por um lado, facilitam o seu trabalho, por outro, “podem funcionar como elementos que predeterminam os rumos de sua investigação” (Saviani, 2005, p. 7), o que reforça a necessidade de sempre se fazer a crítica aos documentos encontrados, isto é, de interrogá-los.

Nesse sentido, já que é sobre fontes que nos apoiamos para produzir o conhecimento histórico, uma vez formulado o problema a ser investigado, o pesquisador se encontra autorizado a buscar todo tipo de fonte que possa trazer informações de alguma importância para o esclarecimento de seu problema de pesquisa. (Saviani, 2005, p. 13)

É indispensável, portanto, o entrecruzamento dos documentos encontrados para a pesquisa, tanto entre eles como com a teoria e a bibliografia. Não há neutralidade, pois qualquer documento produzido carrega a opinião de alguém ou de uma instituição. No AGMB, encontramos documentos com diversas abordagens e informações sobre diferentes temas, o que favorece essa prática, ao mesmo tempo em que escancara sua necessidade. Buscamos concretizá-la nos inspirando em O queijo e os vermes, obra de Carlo Ginzburg (2006) que foi construída com base no aclamado paradigma indiciário, ainda que não o conceitue.

Um exemplo sobre o qual há diferentes abordagens e informações diz respeito a por que e como Graziela ingressou na botânica, aspectos que vêm sendo investigados pelas autoras deste artigo principalmente através de lentes fornecidas por estudos de gênero. As fontes presentes no AGMB colocam em dúvida a narrativa mais comum, que enfatiza que Graziela iniciou a carreira porque seu esposo, Liberato Joaquim Barroso, sugeriu e a conduziu. Abaixo, segue um trecho de uma reportagem que apresenta essa perspectiva. Ela foi publicada em 1971, no jornal O Globo, e está disponível para acesso no AGMB.

Ele [o esposo de Graziela], um dia, depois de muitos anos de casada, chamou-a para que compartilhassem dos mesmos interesses, iniciou-a nos mistérios e magias das suas plantas e folhas. Pouco tempo depois, ainda moço, morre (parece que ele estava adivinhando!) e deixa para a viúva uma estrada a percorrer, caminhos novos diante dos seus passos que lhe encherão a vida, enquanto vida houver. [...]. (Lessa, 1971, p. 3)13

Já o trecho a seguir foi retirado de uma entrevista que Graziela concedeu, em 1984,14 a Ariane Luna Peixoto. Não foi publicada, mas também está disponível para consulta no AGMB.

Creio que posso dizer, sem medo de ser criticada, que ingressei na botânica por amor. Acompanhando, de perto, os trabalhos de meu marido – Liberato Joaquim Barroso, interessando-me por tudo que ele fazia, pouco a pouco fui assimilando alguns conhecimentos. Lia trabalhos científicos, para poder entender e participar do entusiasmo de Barroso pela sistemática vegetal.

Em 1940, quando ele se fixou no Jardim Botânico e fez o curso de especialização em silvicultura, eu estudava, com atenção, as notas que ele tomava nas aulas de anatomia [...]. Depois, quando já morava no Horto Florestal da Gávea, comecei a assistir as aulas de sistemática ministradas por Barroso a David Azambuja, Paulo Agostinho Araújo, Altamiro Barbosa, Joaquim Falcão e Edmundo Pereira. Tamanho foi o meu aprendizado da “Scientia Amabilis”, que meu marido considerou que já era tempo de aliar algo mais às minhas funções de dona de casa. Nossos dois filhos, com 12 e 11 anos, respectivamente, já não precisavam mais de uma assistência contínua, e, assim, aceitei trabalhar com Leonam de A. Penna, ajudando-o na elaboração de resumos bibliográficos para o Dicionário de plantas úteis do Brasil. [...]. (Barroso; Peixoto, 1984, p. 4)15

E, em versão de revisão de entrevista concedida para Beatriz Bissio, a ser publicada na Revista Ecologia e Desenvolvimento,16 Graziela responde à questão “como foi a sua descoberta da vocação para a botânica?” da seguinte maneira:

Eu nasci no Mato Grosso do Sul, em um ambiente privilegiado, às margens do rio Paraguai. Para mim, é um dos rios mais bonitos do Brasil [...]. Acho que esse ambiente me induziu desde cedo ao amor pela natureza. Me casei com um agrônomo que adorava a botânica e era apaixonado pelo seu trabalho. Com ele fui me acostumando a ouvir nomes de plantas e a visitar campos. Mas ainda eu não tinha o olho crítico de uma pesquisadora. Com 30 anos e meus filhos já crescidos comecei a estudar seriamente.17

Percebemos diferentes nuances nesses discursos a respeito de um mesmo tema. Assim como é contado que a ideia de Graziela trabalhar com botânica partiu de Liberato, consta que ela mesma iniciou os estudos, e que só então ele teria notado e indicado essa possibilidade. Além disso, ela recorda, mesmo que tal dado apareça em poucas fontes, que, já na infância, gostava das plantas e da natureza da região onde vivia no município de Corumbá, dando a entender que isso também influenciou sua escolha. Parecem mudanças sutis, mas não são. E aqui, apresentamos apenas alguns elementos dessa teia, a qual é composta por muitos outros “ditos” e, também, “não ditos”. O cruzamento das fontes nos auxiliará a perceber se são perspectivas complementares ou contrastantes e, portanto, a tentar responder às perguntas de por que e como Graziela ingressou na botânica. Mesmo que não seja possível compreender esse e outros cenários complexos, consideramos relevante que o AGMB nos possibilite colocar em dúvida o que está posto como verdadeiro sobre sua titular e, assim, evidenciar aspectos de sua trajetória que estavam ocultos ou contar aqueles já conhecidos, mas a partir de novas interpretações.

Para Andréa Lisly Gonçalves, ao trabalhar com fontes sobre mulheres, “multiplicam-se as interpretações e os temas abordados”. Segundo a autora, citando as contribuições de Maria Izilda de Matos, podem ser tomados como exemplos dessas possibilidades

expressões culturais, modos de vida, relações pessoais, redes familiares, étnicas e de amizade entre mulheres e homens, seus vínculos afetivos, ritos e sistemas simbólicos, construção de laços de solidariedade, modos e formas de comunicação e de perpetuação e transmissão das tradições, formas de resistência e lutas até então marginalizadas nos estudos históricos, propiciando um maior conhecimento da condição social da mulher. (Matos, 1997, p. 103 apud Gonçalves, 2006, p. 89)18

Poder investigar esses e outros temas tendo como base o que está guardado em um arquivo privado pessoal de uma mulher, o qual praticamente não havia sido consultado para fins de pesquisa, corrobora que ainda há o que compreender e evidenciar acerca da história da educação das mulheres e de seu ingresso e permanência em suas carreiras profissionais. Por exemplo, especificamente o AGMB tem informações que nos permitem traçar a relação entre aspectos da vida privada pessoal e da vida pública profissional de Graziela. Devido ao apagamento de fontes sobre o qual falamos anteriormente, nem sempre é possível encontrar esse conteúdo em arquivos privados pessoais de mulheres. Ou seja, a existência desse arquivo reafirma Graziela enquanto sujeito histórico, enquanto presença na história, possibilitando repensar e alterar o modo como a história é escrita e contada. A presença das mulheres na história e, acrescentamos, especificamente na história da educação, na história das ciências e na história da botânica,

questiona a prioridade relativa dada à “história do homem”, em oposição à “história da mulher”, expondo a hierarquia implícita em muitos relatos “históricos”, isto é, mostra que a história como está não apenas é incompleta, mas também que o domínio que os historiadores têm do passado é necessariamente parcial. (Scott, 2011, p. 80)

Sabemos que as mulheres empreenderam esforços para superar a exclusão dos ambientes de formação, especialmente dos acadêmico-científicos. Mas isso aconteceu de diferentes maneiras, a depender do local, da época, e de inúmeros outros fatores. Graziela ingressou na botânica em um momento no qual preponderava a presença de homens e relata os preconceitos que sofreu em função disso. Os documentos citados, assim como outros, permitem investigar não apenas situações particulares da vida de Graziela a partir de uma abordagem de gênero, mas em que contexto se inseriam. Bonato (2005, p. 132) recorda que

para se pensar a educação feminina no presente, faz-se necessário ir ao passado, a fim de compreender como as mulheres e sua forma de inserção na instituição escolar e na sociedade foram se modificando ao longo do tempo. Isso nos leva a buscar o lugar de sua própria participação nesse processo, tendo em vista a sua história de luta política reivindicatória por direitos sociais e garantias individuais.

Outro aspecto interessante do AGMB enquanto fonte para a nossa pesquisa é a presença de documentos que permitem rastrear como Graziela se via no papel de professora e quais as concepções mais presentes em seus discursos. Nas cartas que trocava com colegas de profissão e orientandas(os), em algumas de suas produções científicas e nas entrevistas que concedeu, a palavra “amor” é frequentemente citada, parecendo um elemento central em seu discurso como professora. Apresentamos duas manifestações nesse sentido, nas entrevistas anteriormente citadas. A primeira, presente na reportagem de 1971: “A minha receita é uma só: o amor. Educar para o amor: às plantas, às árvores, à natureza, aos bichos, à Terra, ao país” (Lessa, 1971, p. 3). E a segunda, da entrevista de 1984:

Sem dúvida, meu mérito consiste no grande número de novos botânicos que consegui formar, semeados por todo o Brasil. Desenvolver em cada aluno a “chama sagrada” e atiçá-la até vê-la transformar-se em fogueira ardente; mostrar-lhes a importância da perseverança no trabalho de cada dia; pregar-lhes a fé naquilo que fazem; ensinar-lhes que para se tornar um bom pesquisador há de haver consciência, honestidade, humildade e amor, e que a felicidade só se encontra no trabalho realizado – foi a minha maior contribuição à botânica. (Barroso, 1984, p. 5-6)19

Estamos interessadas em compreender melhor tal contexto, em saber como aprendeu e mobilizou tais concepções e se as ressignificou ou recebeu passivamente. É importante estudar essas marcas dos discursos de Graziela porque são frequentes e dadas como inerentes a ela, ao seu modo de ser, quando, na realidade, precisam ser historicizadas. Além disso, essa averiguação auxilia a fornecer informações para os campos não só da história da educação e da história das mulheres, mas da história das ciências e da história da botânica, especialmente no Brasil, dado o reconhecimento da atuação de Graziela na formação de cientistas e, como consequência, na formação da própria área da botânica no país. A Figura 5 apresenta a professora e pesquisadora, à frente, junto de duas alunas, na UnB, em 1967.


Figura 5 ‒ Graziela Maciel Barroso, à frente, junto de duas alunas, no campus da Universidade de Brasília, em 1967. Fonte: AGMB/JBRJ –JBRJ.GMB.ICON.TPR.02

Ainda sobre sua atuação como professora, alguns documentos que encontramos apresentam indícios de que foi orientadora de estagiários do JBRJ, enquanto outros confirmam que orientou quase uma centena de pós-graduandas(os), além de ter feito parte de inúmeras bancas de defesa. Também há documentos com informações, algumas pontuais e outras detalhadas, sobre cursos, aulas e palestras que Graziela ministrou. Esses dados podem ser simplesmente mapeados ou interpretados em busca das concepções anteriormente citadas, ou ainda de outras.

O AGMB também se caracteriza por ter como titular uma professora e pesquisadora que atuou em todo o Brasil, o que corresponde a outra de suas potencialidades enquanto fonte para a nossa e outras pesquisas. Os documentos presentes nesse arquivo nos fazem perceber a dimensão territorial de sua atuação, não apenas no sentido geográfico, mas no do vínculo com os locais por onde passava para pesquisar e, principalmente, para lecionar. Os certificados de palestras, disciplinas e cursos ministrados por Graziela, assim como as informações de localização presentes em suas anotações de coletas de plantas e as inúmeras fotografias de ocasiões profissionais, permitem rastrear por onde passou e, de certa maneira, como passou, isto é, possibilitam conhecer as redes e os locais de sociabilidade que auxiliaram na consolidação de sua trajetória profissional e seus possíveis impactos. Graziela foi a muitos lugares e construiu relações com muitas pessoas, em todo o Brasil. Já nos discursos encontrados até agora, defendia a importância de estudar a flora brasileira, tarefa para a qual dedicou boa parte de seu tempo e energia, o que culminou na aquisição de tamanha experiência, reconhecida nacional e internacionalmente. Convém lembrar que, até perto do final do século XIX, a flora brasileira foi estudada quase exclusivamente por naturalistas e botânicos de outros países. Graziela, junto com outras(os) colegas de profissão, faz parte das primeiras gerações de naturalistas e botânicas(os) brasileiras(os) que pesquisaram a flora do país. Possivelmente, isso teve impacto no modo como se lecionava botânica aqui.

Acerca disso, também percebemos, ao investigar os documentos relacionados a sua contratação como servidora pública para exercer cargo na carreira de naturalista no JBRJ, que, naquela época, década de 1940, essa instituição estava vinculada ao Ministério da Agricultura. Os objetivos do JBRJ eram, portanto, mais atrelados às ciências agrárias, contexto que foi mudando ao longo do tempo (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2022). Graziela não tinha formação em agronomia, como boa parte de quem trabalhava com pesquisa na instituição. Iniciou a carreira sem possuir graduação e, somente mais de dez anos depois, graduou-se em história natural. Essa diferença entre a sua trajetória e a de alguns de seus colegas nos faz questionar se ela pode ter sido uma das primeiras profissionais do JBRJ a pesquisar e a lecionar sobre a flora brasileira, levando em conta que as plantas possuem valores além dos agrários e econômicos. Os documentos presentes no AGMB têm nos ajudado a investigar essa hipótese.

Utilizar o AGMB como fonte para pesquisar acerca de Graziela enquanto pesquisadora não é o foco de nosso estudo, a não ser quando tal abordagem é indispensável para compreender sua atuação como professora. Todavia, consideramos relevante mencionar algumas potencialidades do arquivo que podem se relacionar mais com esse objetivo. Como muitas de suas publicações estão nele preservadas, assim como anotações de estudos e rascunhos de textos publicados ou não, é possível identificar boa parte de suas contribuições à pesquisa em botânica sistemática de angiospermas,20 assim como compreender o histórico dos seus objetos de estudo ao longo da carreira e como construía seus saberes. Possuía vasto conhecimento de muitas famílias botânicas,21 mas o arquivo evidencia em quais se especializou e, ainda, seus esforços de pesquisa acerca de flores, inflorescências, frutos e sementes, temáticas sobre as quais também foi considerada especialista. Ademais, há relatórios de saídas de campo e outros tipos de registros relacionados a essas ocasiões indispensáveis ao trabalho na botânica, os quais, somados às informações que constam nos herbários referentes às suas coletas, permitem traçar seu histórico de excursões e com quem as fez. Os cadernos de estudos com plantas anexadas que mencionamos anteriormente também podem ser úteis para compreender o que e como ela estudava e pesquisava, além de onde coletava as plantas. Muitos esboços de ilustrações que ela mesma fez, seja para dar aulas ou para suas próprias publicações, podem indicar o modo como interpretava as principais características das plantas.

Limites do AGMB para a realização de pesquisas acadêmicas e sugestões para revitalizá-lo

Consideramos indispensável discutir, também, acerca de alguns limites que identificamos no AGMB para a realização de pesquisas acadêmicas, tomando como exemplo seu uso em nossa própria pesquisa. Como esse arquivo privado pessoal está no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, instituição cujos objetivos originais não incluem sua salvaguarda, é necessário ainda mais atenção a esse contexto. Afinal de contas, é um arquivo que engrandece o JBRJ, na medida em que os documentos de uma das profissionais mais importantes de sua história estão nele depositados, possibilitando a ocorrência de inúmeros tipos de pesquisas.

A primeira autora deste artigo encontrou alguns documentos com problemas de preservação e conservação, isto é, atacados por fungos e insetos e, consequentemente, necessitando de restauração. Apenas uma pequena parte do AGMB foi digitalizada, de modo que não foi possível consultar a maioria dos documentos de forma virtual. Além disso, em alguns momentos do processo de levantamento de fontes para a pesquisa de doutorado em curso, foram encontrados documentos de um mesmo tipo depositados em diferentes séries ou subséries, como, por exemplo, certificados de palestras e cursos ministrados presentes tanto na série Documentos Pessoais quanto na série Trajetória Profissional. Também foram percebidas diferenças entre o código de referência dos dossiês disponibilizado no inventário documental impresso, no inventário documental gerado no banco de dados on-line e nas capas físicas dos próprios dossiês. Sempre registramos essas informações, tanto para contribuir com o próprio AGMB, como para possibilitar e agilizar o rastreamento das fontes em nossa pesquisa.

O AGMB foi criado, mas o trabalho da equipe multidisciplinar que contribuiu para isso não permaneceu ao longo do tempo, provavelmente em função de o arquivo não estar inserido em uma política institucional que garanta sua manutenção e qualidade. Esse contexto pode contribuir para o que relatamos no parágrafo anterior e, também, para que não seja tão conhecido e valorizado quanto seria o ideal. Algumas ações podem contribuir sobremaneira para mudar tal cenário, tais como: realizar concursos específicos para o cargo de arquivista, profissional indispensável para manter esse arquivo e para auxiliar na criação de outros, pertencentes a outras pessoas que trabalharam no JBRJ; pleitear editais de financiamento para a execução de tarefas de preservação e conservação, incremento, valorização e divulgação do AGMB, tais como a continuidade de sua digitalização, o restauro de documentos em condições precárias; criar um centro de memória; e conduzir atividades educativas no AGMB.

Considerações finais

O presente artigo teve como objetivos apresentar o Arquivo Graziela Maciel Barroso (AGMB) e discutir algumas de suas potencialidades e alguns de seus limites. Nesse sentido, não apenas complementamos as informações disponíveis sobre ele em ambiente virtual, mas fazemos memória de sua história, na medida em que incorporamos informações acerca de seu processo de criação e consolidação, presentes apenas em seu inventário documental original, impresso, cujo acesso se dá mediante consulta presencial.

Destacamos que esse arquivo privado pessoal se constitui como guardião de memórias e como objeto e fonte de pesquisa. Para evidenciar esses aspectos, refletimos sobre documentos que, cruzados entre si, foram transformados em fontes para a pesquisa de doutorado com a qual a proposta deste artigo se relaciona. Já seus limites foram retratados com base nas observações realizadas no decorrer da pesquisa.

Esperamos que todas as informações elencadas contribuam para endossar a importância desse arquivo privado pessoal e torná-lo mais conhecido, valorizado e preservado. Ele possibilita a investigação de contextos da vida de Graziela Maciel Barroso, pesquisadora e professora de botânica de renome, oferecendo contribuições teóricas a muitos campos de estudo, como a história da educação, a história das mulheres de/no ensino superior, a história das ciências e a história da botânica.

Referências

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Recebido em 28/8/2023

Aprovado em 20/10/2023


Notas

1 “Arquivo de entidade coletiva de direito privado, família ou pessoa. Também chamado de arquivo particular” (Arquivo Nacional, 2005, p. 35).

2 Disponível em: https://arquivohistorico.camara.leg.br/bertha-lutz. Acesso em: 27 ago. 2023.

3 “Conjunto de documentos de uma mesma proveniência. Termo que equivale a arquivo” (Arquivo Nacional, 2005, p. 97). Aqui, arquivo é entendido como um “conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, independentemente da natureza do suporte” (p. 27).

4 “Obra de referência, publicada ou não, que identifica, localiza, resume ou transcreve, em diferentes graus e amplitudes, fundos, grupos, séries e peças documentais existentes em um arquivo permanente, com a finalidade de controle e de acesso ao acervo” (Camargo; Belloto, 1996, p. 44 apud Bonato, 2005). Inventários sumário e analítico, repertórios, guias, catálogos e índices são exemplos de instrumentos de pesquisa (Bonato, 2005).

5 Antes correspondente a Mato Grosso.

6 Em 1942, o Horto Florestal da Gávea, assim denominado, foi incorporado ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Heizer, 2011).

7 Em 1995, a instituição passa a se chamar Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2022).

8 Lembramos que a líder feminista Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976), formada pela Faculdade de Ciências da Universidade de Paris (Sorbonne) em 1918, ingressou no Museu Nacional do Rio de Janeiro por concurso realizado em 1919 para o cargo de “secretário” (Bonato, 2005). Nessa instituição, dedicou-se a inúmeras áreas das ciências naturais, dentre as quais a botânica (Lôbo, 2002).

9 A página on-line dedicada à coleção arquivística de Graziela Maciel Barroso pode ser acessada em https://www.gov.br/jbrj/pt-br/assuntos/colecoes/arquivistica/graziela-maciel-barroso.

10 Herbário é uma coleção científica composta por amostras de plantas secas e suas respectivas informações de coleta (data, local, coletores, identificação botânica etc.), as quais podem ser utilizadas como fonte de dados para diversas pesquisas, em botânica e outras áreas.

11 A página on-line dedicada à coleção arquivística de Graziela Maciel Barroso pode ser acessada em https://www.gov.br/jbrj/pt-br/assuntos/colecoes/arquivistica/graziela-maciel-barroso.

12 O banco de dados on-line do AGMB pode ser acessado em https://agmb.jbrj.gov.br/pesquisa.php.

13 AGMB/JBRJ – JBRJ.GMB.DIM.11.

14 Esse texto não apresenta o ano de 1984 explicitamente como data de produção. Mas, no inventário documental, consta que é desse ano e, por meio da leitura, é possível confirmar essa informação através de indícios de datas e idades.

15 AGMB/JBRJ – JBRJ.GMB.DIM.15.

16 Esse documento corresponde a uma versão anterior à publicação, já que conta com algumas correções feitas à caneta por Graziela.

17 AGMB/JBRJ – JBRJ.GMB.DIM.36.

18 A referência completa consultada por Andréa Lisly Gonçalves é MATOS, Maria Izilda S. de. Outras histórias: as mulheres e estudos dos gêneros – percursos e possibilidades. In: SAMARA, Eni de Mesquita; SOIHET, Rachel; MATOS, Maria Izilda S. de. Gênero em debate: trajetórias e perspectivas na historiografia contemporânea. São Paulo: Educ, 1997.

19 AGMB/JBRJ – JBRJ.GMB.DIM.15.

20 Graziela atuou principalmente na sistemática botânica de angiospermas, com foco em taxonomia, ou seja, encontrando, identificando, descrevendo, classificando e nomeando plantas com flores e frutos, com base especialmente em suas características morfológicas externas.

21 Família botânica é uma categoria que corresponde a um conjunto de gêneros que, por sua vez, corresponde a um conjunto de espécies de plantas. Na botânica, quando há interesse em classificar uma planta, procura-se, primeiramente, reconhecer a família a que pertence.


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