Acervo, Rio de Janeiro, v. 36, n. 3, set./dez. 2023

O arquivo como objeto: cultura escrita, poder e memória | Dossiê temático

A coleção Mascarenhas da Biblioteca Nacional de Espanha

notícias, relatos e memórias de um clérigo português na corte de Madrid (1611-1671)

The Mascarenhas Collection of the National Library of Spain: news, reports and memories of a Portuguese cleric at the court of Madrid (1611-1671) / La colección Mascareñas de la Biblioteca Nacional de España: noticias, informes y memorias de un clérigo portugués en la corte de Madrid (1611-1671)

Ana Paula Torres Megiani

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professora do Departamento de História da USP, Brasil.

megiani@usp.br

Resumo

Este artigo investiga o complexo conjunto de práticas que se tornaram o modo privilegiado de transmissão, circulação e conexão entre pessoas, ideias e ordens de pensamento; e reflete acerca das formas de escrita e circulação de saberes que surgiram para efetivar a transmissão de valores, costumes e conhecimento na monarquia hispânica, nos séculos XVI e XVII. O objeto de investigação é a constituição de uma coleção de manuscritos e impressos no coração da corte e seu colecionador, o bispo português Jerônimo Mascarenhas (1611-1666), cronista e historiador.

Palavras-chave: cultura escrita; circulação de notícias; impressos e manuscritos; história cultural.

Abstract

This paper investigates the complex set of practices that became the privileged way of transmission, circulation and connection among people, ideas, and orders of thought; and reflects upon the writing systems and knowledge circulation that emerged in order to bring about the transmission of values, customs, and knowledge in the Hispanic monarchy, in the 16th and 17th centuries. The object of this research is the constitution of a manuscripts and printed collection in the Court’s heart and the collector himself, the Portuguese Bishop Jerônimo Mascarenhas (1611-1656), chronicler and historian.

Keywords: literate culture; news circulation; prints and manuscripts; cultural history.

Resumen

Este artículo indaga el complejo conjunto de prácticas que se convirtieron en el modo privilegiado de transmisión, circulación y conexión entre personas, ideas y órdenes de pensamiento; y reflexiona sobre las formas de escritura y circulación del saber que surgieron para efectuar la transmisión de valores, costumbres y saberes en la monarquía Hispánica, en los siglos XVI y XVII. El objeto de investigación es la constitución de una colección de manuscritos y estampas en el seno de la corte y su coleccionista, el obispo portugués Jerônimo Mascarenhas (1611-1666), cronista e historiador.

Palabras clave: cultura escrita; circulación de noticias; impresos y manuscritos; historia cultural.

A reflexão sobre o lugar da escrita nas sociedades de corte europeias e nos contextos da primeira modernidade demonstra que há diversas formas de abordagem do assunto pela historiografia (Bouza, 2006; Algranti; Megiani, 2009; Castillo, 2015). Neste artigo nos dedicaremos a apresentar e tecer algumas considerações acerca dos estudos que realizamos sobre a produção e a coleção de manuscritos e impressos avulsos do clérigo português Jerônimo Mascarenhas, atualmente depositada na Biblioteca Nacional de Espanha (BNE).1

Nascido em Lisboa (Portugal) no ano de 1611 e falecido em Segóvia (Espanha) em 1671, Jerônimo Mascarenhas pertenceu a uma família de considerável destaque durante o período da incorporação de Portugal à monarquia hispânica (1580-1640). Era o 6º filho de d. Jorge de Mascarenhas, 1º marquês de Montalvão e 1º vice-rei do Brasil, cujo título fora concedido por Felipe IV no ano de 1639. Sua mãe era d. Francisca de Vilhena, sobrinha de seu pai. Era primo de d. Fernando de Mascarenhas, o 1º conde da Torre, e irmão de d. Francisco de Mascarenhas, 2º conde de Castelnovo, além de outros irmãos também distinguidos por Felipe IV.

Alguns membros da família Mascarenhas engajaram-se nos movimentos sediciosos ocorridos na cidade de Évora, contra a pressão centralizadora da monarquia hispânica orquestrada pelo conde-duque Olivares em 1639, tendo recebido punições duras por parte da coroa nos momentos que antecederam a aclamação de d. João IV. Em contrapartida, após a aclamação brigantina, integrantes da família também foram tratados como traidores pela coroa portuguesa – o caso do próprio pai de Jerônimo, d. Jorge de Mascarenhas, responsável por promover a aclamação do novo monarca no Brasil (Valladares, 2006; Megiani, 2022).

Jerônimo, entretanto, não aparece nesses contextos de rebelião e traição nos quais estiveram envolvidos seus irmãos, primos e o próprio pai, e o estudo de sua trajetória nos revela um comportamento condizente ao cortesão em busca de aceitação social e reconhecimento por meio da escrita. Formado e doutorado em cânones em Coimbra, Jerônimo Mascarenhas teve pouco destaque depois de sua titulação em 1631, período sobre o qual quase nada ficou registrado acerca de sua atuação. Tendo vivido a maior parte de sua vida juvenil em território português, transfere-se para Madrid nos inícios de 1641, logo após a aclamação de d. João IV, ingressando na corte de Felipe IV, onde também encontraremos seu irmão mais novo, o conde d. Pedro Mascarenhas, 2º marquês de Montalvão. Ambos estiveram em posição oposta aos demais familiares durante a Guerra de Independência de Portugal. De Felipe IV, Jerônimo Mascarenhas recebeu, entre outras, a nomeação como prior de Guimarães e bispo de Leiria, sem nunca ter exercido localmente nenhuma dessas funções.

Sua obra impressa consiste em quatro livros, sobre os quais teceremos algumas breves considerações segundo a ordem cronológica de impressão, pois elas demonstram sua estratégia de ascensão como cortesão letrado. Em 1650, Mascarenhas imprimiu a Viage de la serenissima reina D. Mariana de Áustria, desde Viena hasta Madrid, descrevendo o percurso realizado pela rainha de quem se tornara confessor.2 O livro foi dedicado ao conde-duque Olivares, demonstrando sua devoção à corte e ao valido do rei. Nessa obra, Mascarenhas apresenta, na dedicatória ao leitor, uma lista de textos que estaria escrevendo, ou pretendia escrever, uma relação repleta de obras de história eclesiástica, crônicas de cidades e genealogias de famílias ilustres com a seguinte explicação.

Razon de otros escritos del autor: Este es el primer libro (de los que He escrito) q aparece en publico, por medio de la Estampa, y El que por la materia correrà mas mundo. Por una y otra causa me páreciò dar razón en él de mis Escritos, y de lo que he trabajado en la Historia, materia, q mas me arrebatò el gusto. Sucessiva, o interpoladamente imprimirè, con el favor divino los siguientes Libros. (Mascarenhas, 1650)

Um ano depois desse livro, em 1651, uma nova obra sua vem à luz, a Apologia historica, por la ilustrissima religion, y inclita cavalleria de Calatrava.3 Em 1641, ao ser acolhido na corte, Mascarenhas fora agraciado com um título da Ordem de Calatrava por Felipe IV, fato que o teria levado a escolher a instituição como objeto de um dos seus inúmeros escritos históricos e apologéticos. No discurso introdutório encontramos a declaração do autor sobre ter recebido elogios e agradecimentos do próprio monarca pela escrita do livro.

De que yo eligisse tan digno asunto, V. Magestad se dignò de mostrarse bien servido, y yo me hallo con la dicha de tener original en mi Estudio el papel que V. Magestad se sirvió de escribirme de su propia mano, en que V. Magestad agradece este trabajo con palabras conformes a su Real Grandeza. Con tal premio y tan anticipado me hallè aun antes que V. Magestad leyesse aquel Libro, entendiendo V. Magestad, que recompensa merecía el servicio solo de averselo remitido acabado, y impresso. Mas después que V. Mage. me honrò con leerlo todo, privándose de los mismos entretenimientos del campo, en que V. Mag. se hallaba, por no dexarle; experimentè públicos favores en alabança de aquel trabajo, de que aviendo oído mucho las Vozes, llegaran a mi los Ecos, y estos bastaron para asegurarme en la gloria de mi nombre por aquel escrito. (Mascarenhas, 1651)

Aqui destacamos que, em um único parágrafo, escrita, leitura e oralidade são mencionadas como ações do monarca em relação à obra do cronista, o que diz muito mais da intencionalidade de um autor que busca reconhecimento do que dos próprios hábitos de erudição do rei. As aspirações de Jerônimo Mascarenhas a um cargo de cronista régio, demonstradas neste pequeno trecho de autoelogio, não são inéditas ou exclusivas no circuito letrado português que gravitava em torno dos Filipes e seus validos. Antes de Mascarenhas, outros clérigos desempenharam essa função, como Francisco de Andrade (1540-1614), e os freis Bernardo de Brito (1568-1617) e Antônio Brandão (1584-1637), os dois últimos autores da Monarquia lusitana, obra escrita sob os auspícios da coroa e que ultrapassou a própria temporalidade da monarquia dos Habsburgo em Portugal. Esta tríade de cronistas-mores lusos, que atuaram como historiadores oficiais de Portugal nomeados por Felipe II e Felipe III de Espanha, teve destacada relevância num contexto de aproximação das memórias dos dois reinos (Cerqueira, 2017; Megiani; Cerqueira, 2020). Fora do ambiente clerical apontamos, sobretudo, o cosmógrafo-mor João Batista Lavanha (1550-1624), nomeado cronista régio da jornada de Felipe III a Portugal em 1619 como forma de reconhecimento pelos serviços prestados e sobre cuja obra nos dedicamos mais especificamente em outro momento (Megiani, 2004).

Assim, em linhas gerais, entendemos que a obra impressa de Jerônimo Mascarenhas se enquadra em um contexto de atuação de letrados que foram atraídos pelo mecenato régio filipino, no âmbito de um projeto que, em muitos sentidos, apontava para a preservação e o fortalecimento da presença portuguesa na monarquia hispânica, exercendo seus ofícios de cronistas. Entretanto, a especificidade de Mascarenhas encontra-se no fato de ter se transferido para Madrid no momento da Restauração, quando começava a ruir o projeto de unidade, e sua escolha foi tornar-se cronista da coroa espanhola e não da monarquia lusitana, como seus antecessores.

Embora essa seja uma linha de raciocínio bastante forte sobre a trajetória de Mascarenhas, uma nova vereda se abre quando, no ano de 1653, chegou a público em Madri seu terceiro livro, dessa vez uma obra biográfica do gênero vida, uma hagiografia do português Beato Amadeo, João de Silva Meneses (1420-1482), fundador da Congregação dos Amadeos em Roma.4 A obra foi dedicada a seu irmão mais jovem acima referido, d. Pedro de Mascarenhas, 2º marquês de Montalvão e 3º conde de Castelnovo. Acerca dessa recuperação de uma personagem lusa na obra de Mascarenhas, nossa hipótese é que, além de se tratar de um clérigo português beatificado, e por isso merecedor de uma hagiografia nunca realizada, Amadeo de Portugal fora um membro da casa real que viveu o drama do desterro em Roma (Fernandes, 2002, p. 42), passando pela experiência de se sentir mais admirado e reconhecido fora de sua própria terra, assim como o próprio Mascarenhas. Essa ideia se revela a partir da leitura da dedicatória de Jerônimo ao irmão. Contudo, ainda é necessário dedicar mais tempo a este livro para buscar compreender melhor as razões de sua escrita, edição e recepção na corte madrilenha. Segundo o próprio Mascarenhas afirma, teria também escrito um livro semelhante sobre a vida da irmã de Amadeo de Portugal, d. Beatriz da Silva.

Uma década depois, no ano de 1663, sai publicada a obra sobre uma das batalhas da guerra entre Portugal e Espanha ocorrida em 1662, Campanha da Estremadura.5 Nesse novo livro, Jerônimo Mascarenhas reforça sua posição de defensor e apologista da monarquia hispânica e sua soberania sobre a coroa de Portugal, numa postura favorável às campanhas militares de seu irmão na fronteira luso-castelhana. Vale observar que se trata de um episódio que marcou o processo de definição dos limites territoriais em disputa e, nesse sentido, chama a atenção que o conteúdo do livro esteja muito contemplado nos conjuntos de informações manuscritas, cartas e relatos remetidos a Mascarenhas, que se encontram nas miscelâneas da coleção Mascarenhas da Biblioteca Nacional de Espanha, e sobre os quais trataremos a seguir.6

Entretanto, antes de passarmos ao tema que será o eixo central deste artigo, nos deteremos brevemente em um texto que, embora tenha permanecido manuscrito, é considerado um escrito original e, quiçá, sua obra mais consistente e de maior significado como cronista. Referimo-nos à Historia de la ciudad de Ceuta, publicada postumamente pela Academia das Ciências de Lisboa no início do século XX. Nesse livro, Mascarenhas realiza o que podemos considerar um estudo primoroso de história eclesiástica e heroica, tomando a cidade de Ceuta como cenário dos acontecimentos narrados, adotando a perspectiva da história magistra vitae, na medida em que desenvolve o relato dos acontecimentos passados como um modelo para o seu tempo. Muito provavelmente sua intenção era mostrar que Ceuta estava destinada a permanecer sob domínio espanhol, o que de fato ocorreria após os tratados de 1668 que puseram fim à guerra com Portugal.7 Historia de la ciudad de Ceuta é a obra mais erudita de Mascarenhas, possivelmente sua mais relevante contribuição para a escrita do século XVII, merecendo também um estudo mais aprofundado até hoje não realizado.

Na intenção de escrever uma Crônica de Espanha de seu tempo, Mascarenhas construiu sua coleção de notícias e informações com base em uma ampla rede de correspondentes e colaboradores que lhe enviavam, periodicamente, relatos de várias partes do mundo contando acontecimentos políticos, religiosos, militares, naturais e sobrenaturais. Os 48 volumes que analisamos encontram-se, atualmente, na Biblioteca Nacional de Espanha, totalmente digitalizados, o que possibilitou o andamento seguro da pesquisa, catalogação e classificação em planilha de todos os 3.486 itens da coleção Mascarenhas, e nos permitiu conhecer os lugares de origem das notícias, seus possíveis emissores, as localidades, os assuntos e acontecimentos sobre os quais se referiam, além de uma série de outros aspectos muito reveladores. Vale observar que a coleção Mascarenhas tem sido consultada por um grande número de pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam à história de Portugal, Espanha e suas conexões durante a primeira metade do século XVII.8

Iniciando-se no ano de 1598 – o mesmo da morte de Felipe II de Espanha – e terminando em 1666 – ano da morte de Felipe IV,9 não localizamos, até o momento, trabalhos de pesquisa específicos sobre os volumes dessa coleção e seu método de organização. Nosso interesse por esses conjuntos deve-se, sobretudo, à maneira como o cronista coletava as informações e organizava os volumes.10 Os tomos de Mascarenhas estão constituídos por narrativas e relatos, impressos e manuscritos – originais e cópias –, enviados de todas as cortes mais importantes da Europa, América, África e Ásia, além de inúmeras compilações de documentos antigos, especialmente referentes às relações entre as monarquias de Espanha e Portugal. A grande maioria dos textos está traduzida para o castelhano, o que demonstra a relação visceral de Mascarenhas com essa língua adotada por ele como natural. Seus textos autorais, que abrem cada volume como uma crônica daquele ano, foram também escritos em língua castelhana, indício de vínculo da maior parte de portugueses que se transferiram de Portugal para a corte no mesmo período (Curto, 1988, p. 15).

Com relação à estrutura geral do conjunto, embora seja uma coleção cronológica de “sucesos anuais”, nem todos os tomos correspondem especificamente a um ano do período, pois alguns deles reúnem vários anos seguidos, sobretudo os primeiros: T.1: 1598 a 1600, T.2: 1601 a 1610, T.3: 1611 a 1617. Além desses múltiplos, também há os tomos que reúnem dois anos em um tomo: T.19: 1631/1632, T.32: 1645/1646, T.39: 1655/1656, T.42: 1659/1660. O ano de 1625 é o único que se divide em dois tomos, 11 e 12; e o de 1641 está separado com dois títulos diferentes, um sobre Sucesos del año 1641, T.27, e outro denominado Rebelión de Portugal año 1641, T.28, o único que não tem a palavra Sucesos no título. O tomo de 1641 também é o ano com o maior número de documentos, 171 no total, sendo dois deles repetidos, seguido pelo ano de 1640, com 117 e um repetido.

Ao longo da catalogação, identificamos que há uma considerável quantidade de documentos no interior dos tomos referentes a anos que não correspondem à data do volume, ou seja, o tomo não tem exclusivamente documentos do ano indicado em seu título, o que derruba qualquer tentativa de generalizar a análise simples do conteúdo a partir do ano registrado, sendo mesmo possível que outra pessoa tenha incluído a posteriori documentos nos tomos. Entretanto, mantivemos a data na catalogação de cada documento em planilha e referimos o ano de datação do tomo no qual está encadernado.

Na Tabela 1 estão relacionados os 48 tomos, com seus respectivos números de catálogo da BNE, o(s) ano(s) a que se referem e o número de documentos em seu interior. A totalidade de documentos cadastrados em nosso banco de dados é de 3.486. Optamos por não incluir nessa lista os textos de autoria de Jerônimo Mascarenhas que abrem cada volume e que possuem caráter de síntese narrativa dos documentos agrupados sobre aquele ano.11

Tabela 1 – Lista de tomos da coleção Mascarenhas, anos respectivos e quantidade de documentos

Número no catálogo da BNE

Ano

Quantidade de documentos por tomo

1. 2.346

1598 a 1600

23

2. 2.347

1601 a 1610

77

3. 2.348

1611 a 1617

81

4. 2.349

1618

18

5. 2.350

1619

69

6. 2.351

1620

39

7. 2.352

1621

69

8. 2.353

1622

41

9. 2.354

1623

54

10. 2.355

1624

78 + 1

11. 2.356

1625 Tomo 1º

38

12. 2.357

1625 Tomo 2°

38

13. 2.358

1626

55

14. 2.359

1627

24

15. 2.360

1628

33

16. 2.361

1629

76

17. 2.362

1630

49

18. 2.363

1631

32

19. 2.364

1631 a 1632

58

20. 2.365

1634

39

21. 2.366

1635

43

22. 2.367

1636

41

23. 2.368

1637

21

24. 2.369

1638

69

25. 2.370

1639

58

26. 2.371

1640

116 + 1

27. 2.372

1641

169 + 2

28. 2.373

Rebelión de Portugal Año de 1641

44

29. 2.374

1642

169

30. 2.375

1643

44

31. 2.376

1644

70

32. 2.377

1645 a 1646

89

33. 2.378

1647

45

34. 2.379

1648

44

35. 2.380

1649

40

36. 2.381

1650

81

37. 2.382

1651

37

38. 2.383

1652

47

39. 2.384

1655 a 1656

98

40. 2.385

1657

78 + 1

41. 2.386

1658

44

42. 2.387

1659 a 1660

56

43. 2.388

1661

39

44. 2.389

1662

62

45. 2.390

1663

100

46. 2.391

1664

41

47. 2.392

1665

66

48. 2.393

1666

57

Total 3.486


Como se pode notar pela quantidade de documentos de cada tomo, Jerônimo Mascarenhas conseguiu reunir um volume muito grande de informações oriundas de diversas cidades, países, continentes, que mostraremos a seguir, a partir de uma vasta rede de correspondentes, cujos nomes nem sempre aparecem referidos nos escritos. É provável que parte desses relatos tenham sido comprados em escritórios de notícias cuja eficiência era muito alta, sobretudo nos mais elevados estratos sociais (Chartier, 2007, p. 160). Notamos também que Mascarenhas não possuía um destinatário específico, não escrevia para um indivíduo. Seu objetivo era reunir as notícias de seu tempo para redigir, ele mesmo, as crônicas. Assim, sua especificidade de escrita revela uma prática de autoria de notícias comum durante a primeira modernidade (Chartier, 2007, p. 129). Observamos que, até que se demonstre o contrário, os tomos de Mascarenhas chegaram até nós em sua íntegra, o que também nos leva a debater outros aspectos da preservação de seus volumes.

Cada tomo da coleção possui um índice sumário escrito com letra e tinta do século XVIII, segundo registro do catálogo da BNE (Inventario, 1962). A encadernação é mais recente, feita no século XIX provavelmente, mas ainda não conseguimos localizar a informação específica sobre ela. A partir da bibliografia referente e do próprio catálogo da BNE, sabemos que os tomos de Mascarenhas teriam pertencido a outro colecionador de documentos antigos antes de chegarem à Biblioteca Real no século XVIII e à BNE no século XIX. O proprietário desses volumes teria sido o IV duque de Uceda, d. Juan Francisco Pacheco Télles de Guzmán (1649-1718), que fora vice-rei da Sicília entre 1687 e 1692 e embaixador espanhol em Roma. Segundo Margarita Martín, a biblioteca do IV duque de Uceda tinha encadernação própria, o que possibilita identificar todo o conjunto de impressos e manuscritos pertencentes a esse nobre no acervo da BNE, contudo, a encadernação dos tomos da coleção Mascarenhas foi trocada e não permite mais ser identificada com a encadernação da coleção Uceda (Martín, 2009). Não encontramos informações, até o momento, sobre como os volumes construídos por Jerônimo Mascarenhas teriam chegado à biblioteca do duque de Uceda. Acreditamos, contudo, que eles tenham sido comprados, já que durante sua permanência como vice-rei da Sicília, d. Juan Francisco Pacheco Telles de Gusmán tornou-se um notório comprador de manuscritos antigos, gregos, latinos e árabes, que também se encontram encadernados e depositados na BNE e despertam grande interesse dos estudiosos das coleções do século XVII (Fernández, 1976).

Entre os manuscritos e impressos coligidos por Mascarenhas há um grande número de cópias de documentos oficiais que se misturam com as notícias enviadas por seus correspondentes, o que demostra que ele teria acesso a pessoas que atuavam no centro de cortes como a francesa, a inglesa e a papal, entre outras. Além disso, a coleção começa em 1598, mas seu nascimento data de 1611, indicando que Mascarenhas teve acesso a fontes anteriores à sua própria existência por meio de herança, ou transferência, de alguém que possuía esse material. Entretanto, não localizamos ainda informações sobre como o cronista teria obtido tais fontes. As imprecisões são características da escrita do período, já que o uso de referências a fontes documentais não era ainda um critério de autoria. É provável que tenha tido acesso aos registros e informações existentes no Conselho de Portugal, onde, como afirmamos acima, passou a ter assento a partir de 1641. Também seu cargo de censor régio, para o qual fora nomeado por Felipe IV, lhe facultou uma rede ampla de autores e de notícias sobre obras impressas e manuscritas que circularam nos territórios da monarquia hispânica, especialmente folhetos avulsos, relaciones de sucesos, avisos, e outros tipos de escritos breves que compõem uma parte significativa de seus papéis.

A primeira notícia do primeiro tomo está intitulada Notícias sobre la última enfermedad de Felipe II, consejos a su hijo y entrega de llaves de sus escritorios a don Cristóbal de Moura para quema de papeles. Consideramos bastante significativo que o primeiro registro da coleção seja relativo a d. Cristóvão de Moura, o marquês de Castelo Rodrigo, falecido em 1613 e que, como se sabe, ocupou por duas vezes o cargo de vice-rei de Portugal (1601-1603 e 1608-1612). Uma das hipóteses que levantamos, mas ainda não conseguimos verificar, é que os papéis de Mascarenhas recolhidos antes de sua chegada à corte madrilena (1641) tenham pertencido a uma pessoa ligada à família Moura, provavelmente a d. Manuel de Moura, filho de d. Cristóvão, que conserva uma posição muito privilegiada junto aos monarcas, e que após 1640 é considerado traidor de Portugal e socorrido por Felipe IV (Martínez, 2009, p. 9).

Segundo nossa contagem realizada a partir do catálogo de obras raras da BNE, da totalidade de 3.486 documentos estão identificados 746 impressos e 2.119 manuscritos, restando 621 não identificados, que precisam ser conferidos individualmente.

No tocante ao idioma de autoria, os resultados preliminares da contagem revelam, como dissemos, a predominância do castelhano, correspondendo também a traduções de outras línguas. Há documentos em italiano, latim e português, além de outros idiomas com presença pontual.

Gráfico 1 – Idioma de autoria (mais recorrentes com grafia castelhana)



O uso do castelhano aparece com imensa superioridade em relação aos demais, inclusive com um número grande de traduções. E o português, idioma natural de Mascarenhas, é muito pouco expressivo no conjunto. Acerca desse ponto, voltaremos a tratar um pouco mais adiante.


Gráfico 2 - Lugar de autoria (mais recorrentes)



Sobre o local de autoria de cada documento, encontramos uma variedade muito grande e no Gráfico 2 registramos os mais recorrentes. Entretanto, há um número significativo de lugares de autoria que aparecem também de forma pontual e revelam a amplitude global do conjunto, abaixo relacionados por ordem de número de ocorrências. Aliás, um dos aspectos mais relevantes deste estudo foi a identificação da dimensão espacial desse conjunto de notícias, que passaremos a apresentar agora.


Tabela 2 – Lugar de autoria24

Local

Ocorrência

Madrid

432

Badajoz

51

Barcelona

48

Roma

45

Bruxelas

42

Olivenza

42

Lisboa

36

Nápoles

32

Milão

24

Tarragona

21

Valladolid e Viena

20

Gênova, Lérida e Sevilha

18

Alcántara, Ratisbona

14

Valencia

12

Cádiz e Londres

11

Paris, Perpiñan, Tortosa

10

Évora

9

La Haya

9

Fraga

8

Aranjuez, Munster, C. Rodrigo, San Lorenzo e Turin

7

Lima e Palermo

6

Brozas, Monzón e S. Germano

5

Amsterdam, Flix, Redondela, Túy

4

Arronches, El Pardo, Espanha, Goa, Jerez, Mérida, Mesina, México, Monterrey, San Germán en Laye

3

Alcalá, Alicante, Amberes, Badén, Barbastro, Burdeos, Cadaques, Castelteri, Colônia, Constantinopla, Cuenca, Firenze, Funchal, Jerez de Los Caballeros, León, Livorno, Mombasa, Mônaco, Munique, Oran, Porto Venere, Praga, Reus, Rosas, Salvatierra, Santa María, Valencia de Alcantara, Valtelina,Vigo, Zaragoza

2

Abiulle, Albuquerque, Allariz, Almansa, Almonte, Angra, Antuérpia, Aragão, Aschaífenburg, Avigliana, Bahía de La Goleta, Bahía de Lagos, Bayona, Belmolle, Berbegal, Berrua, Bodubais, Bologna, Bosenguien, Brujas, Buen Retiro, Burgos, Burlesca, Cáceres, Camp de Chaumont, Campagnie, Campo acima de Aus, Campo de Goyán, Campo de la Marina de Argeles, Campo de Llorens, Campo de Telena, Campo sobre Olivenza, Campo y flerte, Camprodon, Cartagena, Cartagena das Índias, Castellanía, Castelnovo, Castillo de Colibre, Catançaro, Católico Campo, Caualleris, Ceuta, Chaparague, Cofani, Coimbra, Coire, Colibre, Córdoba, Cresciente, Dunquerque Elna, Fontanabeu, França, Frascati, Funsterwalda, Ginestar, Golfo de Léon, Granada, Halberstad, Hamptor Court, Hancitoncurii, Hospital Real, Insbruck, Ipres, Irún, Jueves, Juliers, Larache, Laubembourg, Lerma, Lobón, Lubec, Luther, Maguncia, Málaga, Mallorca, Manila, Miravet, Moizón, Monasterio de San Zoil de Carrión, Mondón, Montblanc, Monte Fiascone, Montes de Salvatierra, Morón, Namur, Nerharen, Nicklesgurg, Oeniponti, Oxford, Pamplona, Paraguai, Pavía, Penamacor, Polônia, Ponta da Lata, Pontevedra, Pontilier, Possonia, Possonio, Puzol, Quirico, Salamanca, Salsas, San Amaro, San Lúcar, Santa Catalina, Santiago de Compostela, Santiago do Chile, Santo Domingo, Sarraual, Seriñena, Serradilla, Talavera, Tiechfield, Tordesilhas, Torre de Ambarra, Torrent, Trujillo, Dunquerque, Vaticano, Ventosilla, Zuric

1



Outra constatação relevante consiste no local indicado de proveniência da notícia não corresponder, necessariamente, à localidade sobre a qual se refere o conteúdo dela, podendo um único escrito informar acerca de vários lugares, como costumava ocorrer nas relações de sucessos. Nesse sentido, a tabela muda, e o local mais referido passa a ser a França como denominação geral, além de localidades específicas, pois se somarmos as informações que se referem a Paris e outras cidades francesas o número será ainda maior. Certamente, tal incidência se deve à presença de notícias relacionadas às guerras entre Espanha e França durante o século XVII. Em segundo lugar, a Catalunha, região sediciosa e fronteiriça com a França. E, em seguida, Portugal, cuja guerra de independência foi amplamente notificada para Mascarenhas por diversos correspondentes que o informaram sobre a situação da fronteira em tempo real.

Gráfico 3 – A que local se refere (mais recorrentes)



Tabela 3 – A que lugar se refere

Local

Frequência

França

185

Catalunha

156

Espanha

141

Portugal

112

Flandres

82

Alemanha

80

Itália

79

Holanda

77

Lérida

48

Inglaterra

45

Nápoles

45

Barcelona

43

Roma

34

Évora, Extremadura

26

Hungría, Tortosa

25

Madrid

23

Galicia, Perpiñan

21

Veneza

20

Tarragona

19

Paris

17

Brasil, Zaragoza

16

Cádiz, Lisboa, Milão, Suécia

14

Dinamarca

13

Áustria, Polônia

12

Badajoz, Bruxelas

11

Arronches, Europa

10

Badax, Chile, Japão, Sicilia, Valencia

9

Alcántara, Fli, Genova, Índias, Valladolid

8

Constantinopla, Londres, Miravet, Nova Espanha

7

China, Índia, Irlanda, Orbitelo, Rosellón, Sevilla, Transilvânia

6

África, Aragão, Argel, Burdeos, Colonia, Malta, Monteferrato, Peru, Salsas

5

Alconchel, Amberes, Andaluzia, Bahía de Todos os Santos,Burgos, Ceuta, Escócia, Fontana Santa, Goa, Mântua, Montijo, Ormuz, Pomblin, Saboya, Turín

4

Amsterdam, Castela, Cremona, Filipinas, Fraga, Gran Bretanha, León, México, Munster, Pernambuco, Piamonte, Praga, Rosas, Saxônia. Viena

3

Albuquerque, Almeida, Ameixial, Aran, Ásia, Balaguer, Baviera, Berbería, Bohemia, Borgonha, Breda, Brem, Breme, Bruges, Calabria, Ciudad Rodrigo, Colibre, Cuzco, Frisia Ocidental, Fuenterrabía, Golfo da Califórnia, Guiena, Illa, Índia Oriental, Lombardía, Longon, Mahón, Marrocos, Messina, Mombaça, Monomotapa, Monserrate, Monterrey, Norlinghen, Olivenza, Ratisbona, San Feliu, Santiago do Chile, Tânger, Turquía, Villalonga, Zelândia

2

Açores, Alarache, Albendrelli, Alcouer, Alentejo, Alexandria, Alicante, Alsacia, Amazonas, Anveres, Aranjuez, Arenas Gordas, Argélia, Armênia, Aviñón, Ayamonte, Ayqui, Aytona, Bahia, Bahía de La Goleta, Barbará, Barbastro, Barbera, Berbegal, Bizerta, Bodubais, Cabo de Santo Antón, Cabo de São Vicente, Cabo Verde, Cambray, Camprodon, Cantárbia, Capsis, Caragoça, Carmañola, Castel Dasens, Castellanía, Castilha, Cerdânia, Chiavenna, Chosas, Conflent, Costa da África, Dalmacia, Damianes,, Denia, Dictmarsen, Escorial, Esguízaros, Estados Unidos de Holanda, Estocolmo, Estreito de Gibraltar, Estreito de Magalhães, Estremadura, Estremoz, Etiópia, Falset, Fribourg, Frieras, Friesseeveen, Frisia Oriental, Gerona, Granada, Gratz, Gueixome, Halsácia, Ilha de Santa Catalina, Ilha de São Miguel, Índia de Castela, Índia de Portugal, Jerusálem, Juliers, Larache, La Rochelle, Laiguadoch , Languedoc, Levante, Lídia, Lima, Longavila, Lubec, Macau, Mallorca, Manila, Mar Adriático, Mardique, Mar do Sul, Martorel, Mequinenza, Merida, Mônaco, Monforte, Monjuich, Monzón, Namur, Natólia, Oristan, Ottagia, Outras Índias, Países Baixos, Palatinato, Palermo, Pará, Paraguai, Paralló , Perelló, Pérsia, Pilegran, Piur, Plaza de Flix, Porto di Fochie, Potosí, Puerto da Matará, Puerto de Mataró, Puerto de la Mármora, Puerto Hércules, Puerto Longón, Quito, Rio da Prata, Riudarenas, Salamanca, Salardú, Salerno, Salou, Salvatierra, San Feliú, San Lúcar, San Sebástian, San Tomé e Príncipe , Santo Domingo, Sardenha, Savoya, Segarra, Talarn, Tangere, Telena, Tetuán, Thíbet, Tilemont, Tirol, Toledo, Tomar, Tordesilhas, Torino, Tortuga, Toscana, Traina, Tremp, Tunes, Turena, Urgel, Valdoncelles, Valtalina, Valtelina, Varigote, Valverde, Varsóvia, Vescovi , Vigo, Vila de Caspe, Villa de Naualcarnero, Villa de Santo Alexo, Villafranca del Panadés, Vilaviciosa, Villa de Olivencia, Xirás, Yelves, Zardaña, Zarza, Zerdaña (Sardeña)

1



Os resultados obtidos demonstram que o número de localidades às quais as notícias se referem (313 aproximadamente) é maior do que o local de proveniência delas (208 aproximadamente), demonstrando a existência de um circuito de intermediários, dos quais os informantes de Mascarenhas recebiam as notícias de diversas partes. Tais agentes mediadores não foram analisados na pesquisa, embora sua existência possa ser comprovada devido à intensa dinâmica de informação oriunda de diversas partes do mundo. Alguns poucos exemplos retirados dos volumes já nos permitem comprovar a hipótese, como é o caso das notícias sobre acontecimentos relacionados ao Brasil, que não aparece na tabela de localidade do autor, mas que identificamos como local de referência em cerca de 25 notícias entre 1619 e 1642. É o caso de uma cópia do manuscrito em latim de 1623 intitulado Brevis, succinta ac vera narratio expeditionis illius quam quidam inescatores sub auspiciis et auctoritate illustrium D.D. Ordinum Holandiae, Zelandiae etc. susceceptrum in Brasiliam, Anno MDCXXIII, de autoria de Enoch Estel Gênio13 sem informação acerca de onde partiu e de quem o teria enviado ou copiado. Outro caso importante é o impresso de Madrid intitulado Traslado de una carta embiada del Brasil a un Cavallero desta Corte, dándole cuenta de las grandes Vitorias que han tenido las armas católicas de’ su Magestad D. Felipe IIII... govemado por don Jorge Mascareñas, Conde de Castillo y Marques de Montalvan. En que se da cuenta de los fuertes que los nuestros tomaron y los nauios que les quemaron, Madrid, por Catalina de Barrio y Augulo, datado de 1642, mas incluído no volume referente ao ano de 1640 por tratar de assuntos daquele ano.14

Além de impressos avulsos e cópias de impressos, encontramos também vários exemplares de mercúrios e gazetas, bem como trechos copiados desses periódicos que passaram a circular na Europa de maneira mais regular no segundo quartel do século XVII. Notamos a presença discreta deles na coleção a partir da década de 1640, e, à medida que os volumes avançam no tempo, esses periódicos ocorrem de forma mais frequente e em maior quantidade. Contudo, não podemos afirmar seguramente que Mascarenhas tenha sido colecionador de gazetas e mercúrios, pois a quantidade que encontramos é significativamente pequena se comparada com o grande número desses periódicos que circulavam na Europa em meados do século XVII.

No ano de 1662, percebemos a adesão dele a este tipo de periódico, uma Gazeta nueva de los sucessos Políticos y Militares de la Asia, África y Europa: a) Numero Tercero ... Hasta fin de Abril deste año de mil y seiscentos y sesenta y dos. Madrid, Julián de Paredes, 1662. Impreso en 4º. b) Numero Quarto ... en la mayor parte de Europa y África, hasta 23 de Junio deste año de mil y seiscientos y sesenta y dos. Madrid, Julián de Paredes, ١٦٦٢. Impreso en ٤°. c) Numero ٥ ... de la mayor parte de Europa, hasta todo el mes de Julio deste año de mil y seiscientos y sesenta y dos. Madrid, Julián de Paredes ١٦٦٢. Impreso en ٤º. d) Numero 6 ... que han sucedido en el Rejmo de Portugal por la parte de Ciudad-Rodrigo y Reino de Galicia este año de 1662. Fecha en las montañas de Real y Agosto 2 de 1662. Madrid, Julián de Paredes, s. a. Impreso en 4º. Assim, no mesmo volume aparecem os diversos números de uma mesma gazeta, demonstrando que seu ofício de coletor e organizador de notícias começava a se orientar na direção dos periódicos impressos.

Nosso estudo acerca deste conjunto de volumes alcançou um estágio intermediário de análise. Hoje sabemos qual é a sua amplitude temporal e espacial, bem como temos uma noção aproximada dos assuntos que mais ocorriam. Os resultados obtidos revelam ainda a grande rede de correspondentes que ele possuía, embora não seja possível conhecer detalhes acerca dos autores ou intermediários das notícias coletadas e organizadas, devido à ausência desses dados em grande parte dos documentos.

A análise da abrangência dos volumes da coleção Mascarenhas nos leva a concluir que há predominância de temas políticos e militares, mas também detectamos a presença significativa de relatos de acontecimentos naturais – furacões, cometas, terremotos, enchentes –, e ainda profecias e prognósticos. Tal concomitância de temas pode parecer contraditória aos nossos olhos contemporâneos, mas era extremamente comum nos arbítrios dos séculos XVI e XVII, quando acontecimentos políticos, militares, naturais e sobrenaturais não tinham sido separados, ou classificados, em categorias de ciência, religião e razão de Estado (Elliott, 1996, p. 289). Outra constatação que reforça esse ponto é que não há títulos padronizados na coleção, nem qualquer organização por assunto. E, como afirmamos acima, mesmo as datas dos documentos não correspondem integralmente ao ano do volume onde estão inseridas.

Durante a primeira metade do século XVII, o aparecimento na Europa dos primeiros periódicos noticiosos que se tornariam um novo gênero de escrita, inexistente em qualquer outra época ou lugar, evidencia que a curiosidade das pessoas em saber o que se passava nas outras partes do mundo se torna uma necessidade cotidiana. Há que se notar, contudo, que a vontade de saber e conhecer o mundo por escrito está diretamente ligada com o sentido de alteridade que os contatos globais aportaram, com a maior agilidade dos transportes e o fortalecimento dos suportes materiais, papel e tinta. As notícias do mundo circulavam manuscritas, impressas, em cópias, fossem verdadeiras ou falsas (Megiani, 2019).

As novas perspectivas de conhecimento do mundo, abertas pelos navegadores e conquistadores lusos, castelhanos, neerlandeses, franceses e ingleses a partir século XVI, conduziriam a uma profunda alteração do modo como os próprios europeus passaram a lidar com o entendimento do passado e do presente, da tradição, dos saberes dos antigos e da religião. Não temos condições aqui de refazer toda a discussão acerca da imensa transformação que se sucedeu nesses campos, tampouco de indicar como os saberes dos portugueses e espanhóis foram recebidos nos mundos por eles alcançados, o que tem sido tratado por diversos estudos no tocante às ideias, representações e cultura material (Subrahmanyan, 2017, p. 231-232; Gruzinski, 2004, p. 279).

Por fim, atentaremos para o significado formal do termo "notícia" na primeira metade do século XVII, tal como aparece no Tesoro de la lengua castellana o española, decorrente do latim notitia; cognitio, definido como “el conocimento de alguna cosa” (Covarrubias, 1611, p. 565), ou seja, na língua espanhola a concepção era simplesmente conhecer.

Cerca de cem anos depois, encontramos a definição em língua portuguesa no dicionário de Raphael Bluteau da primeira metade do século XVIII, que aponta a diferença entre notícias certas referidas como a ciência, e notícias duvidosas ou escuras, definidas como opinião (Bluteau, p. 754). O termo suceso, utilizado na época moderna como um tipo de sinônimo de notícia, e comumente encontrado no título das folhas impressas soltas contendo relatos de acontecimentos, não aparece no Tesoro de la lengua castellana de Covarrubias, mas em Bluteau significa “cousa que tem sucedido” (p. 711). Portanto, podemos supor que a relação entre notícia e sucesso fora estabelecida de forma mais direta ao longo do século XVII, pois informar os fatos ocorridos, quaisquer que fossem, torna-se também uma forma de conhecimento. Este é para nós um ponto muito importante, já que nosso argumento aqui consiste em demonstrar que a notícia que circula, impressa ou manuscrita, começa a se tornar um campo de expressão de ideias que aos poucos se desvinculam da tradição e das preceptivas retóricas.

Os documentos noticiosos escritos nos séculos XVI e XVII, em forma de impressos ou manuscritos, não podem ser tratados como embriões do periodismo oitocentista, tal como costumam afirmar, anacronicamente, alguns estudos desse campo (Alías Bergel, 2005; Sousa, 2013). Diferentemente dessas opiniões, compreendemos que pertencem a um momento específico da cultura ocidental, cujos procedimentos de registro, seleção e organização dos assuntos em miscelâneas e coleções eram realizados segundo códigos próprios. Assim, nos parece fundamental levar em conta o caráter hierárquico da sociedade europeia que se interessa pelas informações recém-chegadas das outras partes do mundo, na qual um indivíduo, apenas por ser letrado, não tinha garantido seu espaço de atuação junto às diversas esferas de poder e domínio existentes e precisava ser algo mais (Megiani, 2020, p. 540-541).

A pesquisa desenvolvida sobre a coleção Mascarenhas nos permitiu perceber também que a circulação de notícias no centro da monarquia hispânica era uma atividade dinâmica, intensa e despertava interesse. O status alcançado por Jerônimo certamente foi fortalecido em função de seu interesse por essa atividade, tendo sido responsável pela preservação de um conjunto extremamente importante e original de seu tempo.

Os estudos sobre notícias e redes de comunicações têm recebido cada vez mais atenção por parte dos historiadores contemporâneos, sobretudo devido à mudança de concepção que tem impactado as notícias e informações deste nosso tempo. Nesse sentido, consideramos importante destacar alguns dos aspectos específicos do estudo da circulação de notícias durante a primeira modernidade. O primeiro deles consiste em considerar que tempo e espaço possuíam, nos séculos XVI e XVII, uma ligação direta, pois a notícia corria mais ou menos acelerada de acordo com a distância e os recursos para enfrentá-la, tendo permanecido assim até meados do século XIX. O emprego de animais e homens treinados para vencer grandes distâncias com velocidade e a criação de meios de transporte terrestres, fluviais e marítimos eram os únicos modos possíveis de transmissão das novidades. Aliás, é possível notar uma relação direta entre o encurtamento das distâncias por meio das viagens e conquistas ultramarinas e o aumento do interesse pelo conhecimento das notícias e novidades, pois como já nos alertava Braudel,

seguir a pista da difusão das grandes notícias é também uma maneira de medir velocidades excepcionais. As notícias têm asas. [...]. Em qualquer caso, toda medida deve ser vista com precaução, desde o momento que está confinada em um só número. E não nos esqueçamos do que realmente estamos medindo. A velocidade das notícias [...] não é mais que um capítulo da luta contra o espaço. (Braudel, 1997, p. 479)

As notícias que circularam até meados do século XV de forma oral para a grande maioria das pessoas comuns, em contextos locais, nos mercados, festas e feiras sazonais, aos poucos, a partir do início do século XVI, alcançaram distâncias ultramarinas, continentais, nunca imaginadas, redefinindo, como afirma A. Grafton, uma nova “paisagem da informação”: A century of exploration, conquest and publication had transformed the landscape of information in which Europeans lived” (2018, p. 19). Com esta afirmação, o autor postula uma noção que pode explicar o interesse em ler, escrever e remeter notícias do tempo presente para as diversas partes do mundo.

Mascarenhas foi um autor pouco destacado em seu tempo e pela posteridade, mas a preservação de sua coleção de manuscritos e impressos avulsos nos confere a possibilidade de acessar muito mais do que os assuntos que circulavam no seu tempo. É também por meio dela que conseguimos vislumbrar a escrita do presente, a crônica de um tempo conflagrado e violento, repleto de dilemas como todos os tempos são, mas que nunca deixam de surpreender quem se debruça sobre suas dimensões.

Fontes

MASCARENHAS, Jerônimo. Viage de la sereníssima reyna Doña Maria Ana de Áustria. Segunda muger de Don Phelipe Quarto deste nombre. Rey Catholico de Hespana hasta la Real Corte de Madrid, desde la Imperial de Viena. Al Rey nuestro señor por Don Hieronymo Mascarenas, Cavallero de la Orden de Calatrava del Consejo de su Majestad en el Supremo de las Ordenes Militares de Castilla. Su Sumiller de Cortina. Prior de Guimaraens y Obispo electo de Leyria. Con Privilegio en Madrid por Diego Diaz de la Carrera, año 1650.

MASCARENHAS, Jerônimo. Apologia historica, por la ilustrissima religion, y inclita cavalleria de Calatrava, su antiguedad, su extension, sus grandezas entre los militares de España... / por Don Geronimo Mascareñas cavallero de la misma Orden... y obispo electo de Leyria. Madrid: por Diego Diaz de la Carrera, 1651.

MASCARENHAS, Jerônimo Amadeo de Portugal en el siglo Iuan de Meneses de Silva, religioso de la Orden de S. Francisco de la Obseruancia y fundador de la Ilustrissima Congregacion de los Amadeos em Italia. A Don Pedro Mascareñas, Conde de Castelnuovo. Por Don Geronimo Mascareñas, Cavaleiro da Orden de Calatrava, del Consejo de su Magestaden el supremo de los Militares de Castilla, su Sumiller de Cortina y Oratorio, Prior de Guimarães y Obispo de Leyria. Com Privilegio en Madrid por Diego Diaz de la Carrera. Impressos del Reyno. 1653.

MASCARENHAS, Jerônimo. Campanha de Portugal por la parte de Estremadura. El año 1662 Don Geronimo Mascareñas, Cavalero, Difinidor General de la Orden de Calatrava, del Consejo de Estado de su Magestad, y del Supremo de la Corona de Portugal, que reside junto a su Real Persona, jubilado en el las Ordenes Militares de Castilla, su Sumiller de Cortina y Oratorio, Prior de Guimaraes, y Obispo electo de Leyria. Con Privilegio en Madrid, por Diego Diaz de la Carrera, Impressor del Rey, año de 1663.

MASCARENHAS, Jerônimo. Historia de la Ciudad de Ceuta. Sus Sucessos Militares, y Politicos; Memorias de sus Santos y Prelados, y Elogios de sus Capitanes Generales. Escrita em 1648. Por Jerônimo Mascarenhas. Publicada por ordem da Academia das Sciencias de Lisboa e sob a direção de Afonso de Dornelas sócio correspondente da “Real Academia de la Historia”, de Madrid. Academia das Sciencias de Lisboa. 1918. O manuscrito disponível on-line é o Mss/3033 da coleção Mascareñas – BNE.

Manuscritos 2.346 e 2.393 da Biblioteca Nacional de Espanha, Inventário General de Manuscritos, Colección Mascareñas.

Referências

ALGRANTI, Leila M.; MEGIANI, Ana Paula Torres (orgs.). O império por escrito: formas de transmissão da cultura letrada no mundo ibérico, sécs. XVI-XVIII. São Paulo: Alameda; Fapesp, 2009.

ALÍAS BERGEL, Antonio J. As relações de sucessos nas origens do jornalismo: aproximação ao mercado informativo na Lisboa do século XVII. Leitura, Rev. Bibl. Nac. Lisboa, s. 3, n. 14-15, p. 211-238, abril 2004-abril 2005.

BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico. vol. V. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728. Disponível em: http://dicionarios.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/edicao/1.

BOUZA, Fernando. Palabra e imagen en la corte: cultura oral y visual de la noblesa em el siglo de oro. Madrid: Abada, 2004.

BOUZA, Fernando. Usos cortesanos de la escritura: sobre lo escrito en los espacios áulicos del siglo de oro. Cultura & Sociedad, dossier: El escrito en la corte de los Austrias, n. 3, p. 9-14, 2006.

BRAUDEL, Fernand. El Mediterráneo y el mundo mediterráneo en la época de Felipe II. Tomo I. México: Fondo de Cultura Económica, 1997.

CASTILLO GÓMEZ, Antonio. De la tipografía al manuscrito: culturas epistolares en la España del siglo XVII. In: CASTILLO GÓMEZ, Antonio (coord.). Culturas del escrito en el mundo occidental del Renacimiento a la contemporaneidad. Madrid: Ed. Casa de Velázquez, 2015.

CERQUEIRA, André Sekkel. A donzela alada: reflexão sobre a retórica e a história em Portugal no século XVII. 2017. Dissertação de Mestrado, Programa de História Social da FFLCH-USP, São Paulo, 2017.

CHARTIER, Roger. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (sécs. XI-XVIII). São Paulo: Unesp, 2007.

COVARRUBIAS HOROZCO, Sebastián de. Tesoro de la lengua castellana o española. Madrid: Luis Sanchez impresor del Rey, 1611. Disponível em: http://fondosdigitales.us.es/fondos/libros/765/16/tesoro-de-la-lengua-castellana-o-espanola/.

CURTO, Diogo Ramada. O discurso político em Portugal (1600-1650). Lisboa: Centro de Estudos de História e Cultura Portuguesa, 1988.

ELLIOTT, John H. España y su mundo (1500-1700). Madrid: Alianza, 1990.

FERNANDES, Maria de Lurdes Corrêa. Agiológio lusitano. Tomo V. Estudo e índices. Porto: Ed. da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2002.

FERNÁNDEZ, José M. La colección de Uceda de la Biblioteca Nacional. Nueva edición del catálogo de manuscritos. Helmántica, tomo 27, n. 84, p. 475-518, 1976.

GLÖEL, Matthias. Los autores portugueses entre 1580 y 1640: una lucha literaria por la preeminencia en la monarquía hispánica. Revista de História (São Paulo), v. 1, n. 23, p. 29-51, 2016.

GRAFTON, Anthony. Comparisons compared: a study in the early modern roots of cultural history. In: GAGNÉ, R.; GOLDHILL, S.; LOYD, Geoffrey. Regimes of comparatism frameworks of comparison in history, religion and anthropology. Boston, Brill: 2018.

GRUZINSKI, Serge. Les quatres parties du monde: histoire d’ une mondialization. Paris: Éditions de la Martinière, 2004.

INVENTARIO General de Manuscritos de la Biblioteca Nacional. Tomo VI (2.100 a 2.374) e Tomo VII (2.375 a 2.474). Madrid: Ed. Ministerio de Educación Nacional – Dirección General de Archivos y Bibliotecas, Servicio de Publicaciones, 1962.

MARTÍN, Margarita. La biblioteca del IV Duque de Uceda. Una colección europea. Teka Kom. Hist. OL PAN, p. 219-232, 2009.

MARTÍNEZ, Santiago. Os marqueses de Castelo Rodrigo e a nobreza portuguesa na monarquia hispânica: estratégias de legitimação, redes familiares e interesses políticos entre a agregação e a restauração. Ler História, n. 57, p. 7-32, 2009.

MEGIANI, Ana Paula Torres. O rei ausente: festa e cultura política nas visitas dos Filipes a Portugal. São Paulo: Alameda, 2004.

MEGIANI, Ana Paula Torres. Escritos breves para circular: relações, notícias e avisos durante a Alta Idade Moderna (sécs. XV-XVII). Varia Historia, v. 35, p. 535-563, abr. 2019.

MEGIANI, Ana Paula Torres; CERQUEIRA, André S. Como se escrevia a história no séc. XVII: o uso dos tratados espanhóis, italianos e portugueses pelos historiadores portugueses. Revista de História, USP, n. 179, p. 1-32, 2020.

MEGIANI, Ana Paula Torres. Escrever, ler e fazer circular notícias nas partes da monarquia hispânica: reflexões acerca das transformações na paisagem da informação durante a primeira modernidade. In: SANTOS, J. M.; MEGIANI, A. P. T.; RUIZ-PEINADO, J. L. (orgs.). Redes y circulación en el Brasil durante la monarquia hispánica (1580-1640). Madrid: Silex, 2020. p. 507-538.

MEGIANI, Ana Paula Torres. Jorge Mascarenhas, Primer Virrey de Brasil. Brasilhis Dictionary. 2022. Disponível em: http://brasilhis.usal.es/pt-br/node/451.

SOUSA, Jorge Pedro Jornalismo em Portugal no alvorecer da modernidade. Lisboa: Media XXI, 2013.

SUBRAHMANYAN, Sanjay. Em busca de uma história global. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 30, n. 60, p. 219-240, 2017.

VALLADARES, Rafael. Las dos guerras de Pernambuco: la armada del conde da Torrey la crisis del Portugal hispánico (1640-1669). In: SANTOS PEREZ, Jose Manuel dos. El desafío holandés al dominio ibérico en Brasil en el siglo XVII. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2006. p. 34-66.

Recebido em 31/3/2023

Aprovado em 18/7/2023


Notas

1 Pesquisa desenvolvida com apoio da bolsa produtividade do CNPq entre 2020 e 2022, contou também com o apoio do projeto Intercambios culturales, transculturación y castellanización en los territorios del Reino de Portugal y Brasil durante el periodo de integración en la monarquía Hispánica y sus postrimerías 1580-1668, coordenado pelo prof. dr. Jose Manuel Santos Pérez da Universidade de Salamanca e financiado pela Junta de Castilla y León e programa Feder. A coleção Mascarenhas consiste nos manuscritos número 2.346 a 2.393 da Biblioteca Nacional de Espanha, Inventário General de Manuscritos.

2 Viage de la sereníssima reyna Doña Maria Ana de Áustria. Segunda muger de Don Phelipe Quarto deste nombre. Rey Catholico de Hespana hasta la Real Corte de Madrid, desde la Imperial de Viena. Al Rey nuestro señor por Don Hieronymo Mascarenas, Cavallero de la Orden de Calatrava del Consejo de su Majestad en el Supremo de las Ordenes Militares de Castilla. Su Sumiller de Cortina. Prior de Guimaraens y Obispo electo de Leiria. Con Privilegio en Madrid por Diogo Diaz de la Carrera año 1650.

3 Apologia historica, por la ilustrissima religion, y inclita cavalleria de Calatrava, su antiguedad, su extension, sus grandezas entre los militares de España... / por Don Geronimo Mascareñas cavallero de la misma Orden... y obispo electo de Leyria. Madrid: por Diego Diaz de la Carrera, 1651.

4 Amadeo de Portugal en el siglo Iuan de Meneses de Silva, religioso de la Orden de S. Francisco de la Obseruancia y fundador de la Ilustrissima Congregacion de los Amadeos em Italia. A Don Pedro Mascareñas Conde de Castelnuovo. Por Don Geronimo Mascareñas, Cavaleiro da Orden de Calatrava, del Consejo de su Magestaden el supremo de los Militares de Castilla, su Sumiller de Cortina y Oratorio, Prior de Guimarães y Obispo de Leyria. Com Privilegio en Madrid por Diego Diaz de la Carrera. Impressos del Reyno. 1653. No Agiológio Lusitano dos Santos e Varões Ilustres de Portugal (1666) de Jorge Cardoso há referências a sua vida e obra.

5 Campanha de Portugal por la parte de Estremadura. El año 1662 Don Geronymo Mascareñas, Cavalero, Difinidor General de la Orden de Calatrava, del Consejo de Estado de su Magestad, y del Supremo de la Corona de Portugal, que reside junto a su Real Persona, jubilado en el las Ordenes Militares de Castilla, su Sumiller de Cortina y Oratorio, Prior de Guimaraes, y Obispo electo de Leyria. Con Privilegio en Madrid, por Diego Diaz de la Carrera, Impressor del Rey, año de 1663.

6 Um interessante caminho para análise dessas obras impressas de autoria de Jerônimo Mascarenhas seria cotejar seus conteúdos com os manuscritos da coleção da BNE. Infelizmente ainda não tivemos condições de realizar esse estudo.

7 Historia de la Ciudad de Ceuta. Sus Sucessos Militares, y Politicos; Memorias de sus Santos y Prelados, y Elogios de sus Capitanes Generales. Escrita em 1648. Por Jeronimo Mascarenhas. Publicada por ordem da Academia das Sciencias de Lisboa e sob a direcção de Afonso de Dornelas sócio correspondente da “Real Academia de la Historia”, de Madrid. Academia das Sciencias de Lisboa. 1918. O manuscrito disponível on-line é o Mss/3033 da coleção Mascareñas – BNE.

8 Esta análise teve uma primeira versão publicada em Megiani (2020).

9 Os volumes intitulados Sucesos del año... estão catalogados entre os manuscritos 2.346 e 2.393 da BNE, Inventário General de Manuscritos da BN de España sob a denominação de Colección Mascareñas.

10 Na BNE, além dos volumes organizados pelo próprio Mascarenhas que se iniciam em 1598, existem três códices que tratam de períodos anteriores, os quais teriam inspirado a continuidade do colecionador de notícias. Esses volumes são atribuídos ao jesuíta Jerónimo Roman de La Higuera (1538-1611), que teria escrito, entre outras obras, os sucessos desde o ano 1º DC até o ano 719. São os códices 2.343, 2.344 e 2.345. No registro do Catálogo, esses códices também pertencem à coleção Mascarenhas, o que significa que chegaram à BNE junto com os demais 48 tomos. No Inventário de Manuscritos de la BNE aparece a seguinte observação nos três tomos: “Este manuscrito pertenece, como el anterior, a una Colección que mandó hacer D. Jerónimo Mascareñas, obispo de Segovia, de copias y extractos de las obras del P. Román de la Higuera, especialmente de su historia eclesiástica de la imperial ciudad de Toledo”.

11 Para realizar o registro em planilhas dos títulos e informações relativas a cada um dos 3.486 documentos constantes nos 48 tomos, contei com a colaboração da pesquisadora de iniciação científica, estudante de graduação em história da Universidade de São Paulo, Isadora Lopes Pelli, sob minha orientação, a quem agradeço pelo rigoroso trabalho.

12 Os nomes das localidades foram mantidos de acordo com o modo como aparecem no catálogo. Futuramente será feita uma verificação de sobreposições e nova quantificação, somando-se as cidades e localidades de um mesmo país ou região.

13 Tradução do título: “Breve e fiel relação da expedição que alguns negociantes fizeram ao Brasil, no ano de 1623, dando-lhe favor e autoridade para isso os Estados Gerais das Províncias Unidas”. O manus­crito está no volume relativo aos Sucessos del año 1623, n. 2.354 da BNE, fols. 208.

14 Sucessos del año 1640, n. 2.371, fols. 600.



Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.