Acervo, Rio de Janeiro, v. 36, n. 1, jan./abr. 2023

Espaços urbanos e metropolização no Brasil (1940-1970) | Dossiê temático

Sobre “periferias urbanas” e “favelas”

Análise da produção acadêmica sobre os espaços urbanos de moradia popular no Rio de Janeiro e em São Paulo

On “urban peripheries” and “favelas”: analysis of academic production on urban spaces for popular housing in Rio de Janeiro and São Paulo / Sobre “periferias urbanas” y “favelas”: análisis de la producción académica sobre espacios urbanos de vivienda popular en Río de Janeiro y São Paulo

Mauro Amoroso

Doutor em História pela Fundação Getúlio Vargas. Professor associado do Mestrado Profissional em Ensino de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Brasil.

amoroso.mauro@gmail.com

Diego Edmilson Peralta

Mestrando em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil

diego.peralta@usp.br

Resumo

O artigo analisa quantitativamente os usos das categorias “periferias urbanas” e “favelas” em produções acadêmicas de programas de pós-graduação relacionados ao campo dos estudos urbanos. Foram selecionadas 224 teses de doutorado, publicadas entre 1987 e 2015, construindo-se um quadro temático e um perfil de autoria dessas produções com base nas ferramentas classificatórias e analíticas do UrbanData-Brasil.

Palavras-chave: favelas; periferias urbanas; pós-graduação; UrbanData-Brasil.

Abstract

The article presents a quantitative analysis of the uses of the categories “urban peripheries” and “favelas” in scholar papers of graduate programs related to the urban studies field. 224 doctoral theses, published between 1987 and 2015, were selected to build a thematic framework and an autorship profile of these productions with the classification and analytical tools of the UrbanData-Brasil catalog.

Keywords: favelas; urban peripheries; postgraduate studies; UrbanData-Brasil.

Resumen

El artículo analiza de modo cuantitativo los usos de las categorías “periferias urbanas” y “favelas” in producciones académicas de programas de posgrado relacionados al campo de los estudios urbanos. Fueron seleccionadas 224 tesis doctorales, publicadas entre 1987 y 2015, construyéndose un marco temático y un perfil de autoría de esas producciones con base en las herramientas clasificatorias y analíticas del UrbanData-Brasil.

Palabras clave: favelas; periferias urbanas; posgrados; UrbanData-Brasil.

Este artigo realiza uma análise quantitativa de teses de doutorado de programas de pós-graduação de diferentes disciplinas sobre as favelas e periferias urbanas nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Os trabalhos levantados e analisados fazem parte da base de dados do UrbanData-Brasil, cuja metodologia de classificação das produções foi utilizada na pesquisa.1 Desse modo, será apresentado o perfil dessas produções, os programas de pós-graduação aos quais estão vinculadas, as principais áreas temáticas em que são classificadas e aspectos como assuntos privilegiados em buscas por palavras-chave e considerações abertas sobre a relação entre gênero e autoria dessas teses.

Não temos o objetivo de tecer afirmações definitivas, uma vez que tais considerações exigiriam uma análise qualitativa aprofundada das obras selecionadas. No entanto, cremos que uma análise quantitativa traz uma importante contribuição ao possibilitar o surgimento de hipóteses e iluminar possíveis caminhos de abordagem das favelas e periferias urbanas de acordo com o panorama mais geral dos trabalhos selecionados para estudo.

Ainda assim, gostaríamos de realizar reflexões preliminares, para fins comparativos, sobre “favelas” e “periferias urbanas” como categorias de análise sobre o espaço urbano. O primeiro ponto a se chamar atenção é que são termos alusivos a espaços específicos de diferentes cidades que designam espaços de moradia popular. Conforme será mais bem explorado ao longo do artigo, o primeiro é marcante de uma cultura urbana da capital fluminense, enquanto o segundo se refere à capital paulista. A chave da moradia popular é o elo de entendimento comum sobre esses dois espaços específicos, e o que os difere são, justamente, suas especificidades históricas e regionais. Ainda nessa lógica, é preciso ter em mente a existência de outros termos regionais que nomeiam espaços urbanos de habitação popular nas diversas cidades brasileiras, a exemplo dos mocambos recifenses ou das vilas da região Sul do país, sendo suas especificidades históricas e espaciais o núcleo duro da conceituação de suas características próprias.

Quando aludimos às características históricas específicas das habitações populares, é uma forma de reforçarmos a ligação dessas regiões com a própria história das cidades nas quais se localizam. No caso das favelas cariocas, podemos chamar atenção para três elementos que costumam estar solidamente presentes no senso comum sobre esses espaços: a localização em morros, o uso de materiais improvisados em moradias de autoconstrução e a pobreza como condição social dominante. No entanto, mesmo reconhecendo a forte presença desses três aspectos no imaginário social, é preciso ter consciência de que eles estão longe de resumir a forma da favela carioca, uma vez que a presença de favelas em espaços que não sejam os morros, assim como construções de alvenaria, pode ser notada ao longo de todo o século XX.

Mesmo a relativamente automática associação entre favelas e pobreza homogênea deve ser questionada, a exemplo dos estudos de Luiz Antônio Machado da Silva (1967), já nos anos 1960, que mostram a existência de diferenças socioeconômicas entre habitantes de favelas. Em linha semelhante, devemos citar as reflexões de Janice Perlman (1977), que desafiam uma ideia arraigada sobre o morador de favela como estando à parte dos processos econômicos e de organização social da cidade. Mais recentemente, podemos aludir aos estudos de Lícia Valladares e Edmond Préteceille (2000), que põem em dúvida a caracterização das favelas como espaços de miséria reinante e apontam regiões urbanas que possuem piores condições econômicas e de acesso a serviços diversos, mas não são contempladas de forma satisfatória em termos de políticas públicas, muitas vezes, justamente, por não serem vistas como espaços de atenção.

A própria palavra “favela” para denominar espaços de moradia popular no Rio de Janeiro já é dotada de significados, uma vez que alude diretamente a uma vegetação existente no Arraial de Belo Monte. Tal associação não é gratuita, uma vez que o mito de origem da favela carioca tem como uma de suas pontes o retorno de ex-combatentes da Guerra de Canudos que solicitaram permissão para construir moradias nos morros de Santo Antônio e da Providência, na zona central da antiga capital republicana. O morro da Providência passou a ser chamado, ainda nas duas primeiras décadas do século XX, de “morro da Favela”, não devendo ser ignorada a forte carga de desafio à recém-instaurada ordem republicana que a revolta capitaneada por Antônio Conselheiro significou (Mattos, 2004; Valladares, 2005).

Sendo assim, uma comparação com ela passa a dar contornos claros de desafio à ordem urbana que a capital da República pretendia representar, ainda mais no momento em que construía seu próprio ideário de modernidade. Dentro dessas considerações iniciais, conforme solidamente observado por Mario Brum (2012), o estigma alimentado por diferentes elementos históricos é um definidor da favela carioca. Pobreza, violência e uma suposta ideia de marginalidade são exemplos que alimentam esse estigma de acordo com diferentes conjunturas históricas ao longo dos séculos XX e XXI.

Quando voltamos nosso olhar para a cidade de São Paulo, é possível perceber claramente as especificidades ao refletimos sobre o uso da terminologia “periferias” como categoria analítica para seus espaços de habitação popular. Primeiramente, é interessante pensar a influência dos estudos urbanos e suas pesquisas acadêmicas na sua consolidação. No Rio de Janeiro, os jornais foram determinantes para a disseminação do uso da palavra “favela” como substantivo para designar espaços de moradia popular fortemente baseados na autoconstrução (Mattos, 2004; Valladares, 2005). Em São Paulo, as chamadas periferias foram constantes objetos de análise em estudos realizados nas áreas de arquitetura, urbanismo e planejamento urbano da Universidade de São Paulo, sobretudo a partir dos anos 1960 (Tanaka, 2006).

Tradicionalmente, as periferias paulistanas são vistas como espaços de reprodução dos setores mais populares da sociedade. Nessa perspectiva, têm sido concebidas como áreas de baixo valor imobiliário do solo e da moradia, escassez de oferta de serviços e infraestrutura urbana, de transporte público a saneamento. Ao longo do século XX, também se percebe um distanciamento de seus moradores dos locais de trabalho, uma vez que os espaços periféricos vão se formando em lugares mais distantes das áreas centrais da cidade. Em diferentes níveis, temos ainda a questão da regularização fundiária, com propriedades cujo status passa da formalidade à irregularidade em diferentes estratos. Nota-se, igualmente, a estigmatização desses territórios como áreas de violência e criminalidade, sendo que tais características acabam sendo automaticamente atribuídas a seus moradores, em um fenômeno de construção de representações que associa intrinsicamente indivíduos e grupos sociais aos seus locais de moradia. Ou seja, são muitos os elementos em diálogo com os estigmas relacionados às favelas cariocas, o que pode ser entendido a partir da chave em comum como formas de construção de representações sobre espaços de moradia popular.

Giselle Tanaka (2006) localiza o início do debate acadêmico sobre as periferias urbanas em São Paulo nos anos 1960, por meio de trabalhos iniciais como os de Maria Ruth Sampaio e Carlos Lemos (1993) sobre a autoconstrução da moradia popular. Nesse período, temos um pano de fundo no qual a produção industrial do estado de São Paulo apresenta predomínio sobre o resto do país, respondendo por 58% da produção nacional (Tanaka, 2006, p. 54). A problemática da cidade, impactada por esse crescimento industrial e seus resultados sobre fluxos migratórios e de mobilidade urbana, ganha preponderância inclusive como caminho para se pensar o desenvolvimento nacional. Nesses trabalhos, é possível notar influências dos estudos de Francisco de Oliveira (2003), de 1972, e da interpretação da produção do espaço urbano como resultante de processos social, econômica e historicamente estruturados da sociedade brasileira. Nessa linha, podemos citar a importância de autores como Ermínia Maricato, Nabil Bonduki, Raquel Rolnik e Gabriel Bolafi, com publicações de referência realizadas em 1979 (Tanaka, 2006).

Em termos mais atuais, o debate sobre periferias urbanas envolve a questão da violência e seu impacto na circulação e nas sociabilidades dos moradores do espaço urbano paulista (Feltran, 2008). Também deve ser chamada atenção para o debate sobre a produção cultural, sobretudo no campo do audiovisual a partir das novas tecnologias de comunicação, para se repensar a distinção entre “centro” e “periferia”, bem como novas formas de intervenção e interação com esses espaços (Aderaldo, 2013). A questão da violência e como ela afeta padrões de sociabilidade e formas de circulação pode ser igualmente encontrada em debates mais recentes sobre as favelas (Silva, 2008; Birman; Leite; Machado; Carneiro, 2015).

Com isso, por meio de nossa análise, pretendemos apontar caminhos para o refinamento de dados já conhecidos e chamar atenção para novas possibilidades de pesquisa em relação ao que se tem produzido sobre favelas e periferias urbanas no campo dos estudos urbanos. É notório o peso da presença das disciplinas sociologia e antropologia nas duas temáticas, mas é possível refletir sobre diferenças regionais entre São Paulo e Rio de Janeiro, não apenas como polos de produção, mas como objetos de pesquisa.

Um exemplo é a maior ocorrência de estudos sobre violência urbana quando o Rio de Janeiro é estabelecido como recorte espacial, o que revela indícios do lugar que sua capital tem ocupado no imaginário social desde os anos 1990. Outro exemplo interessante refere-se ao gênero dos autores no que diz respeito a certas temáticas, como quando observamos que trabalhos sobre gênero e sexualidade, e meio ambiente e qualidade de vida são, em sua maioria, de pesquisadoras mulheres. Mas até nesse dado notamos diferenças regionais, pois a primeira temática possui maior ocorrência tendo São Paulo como delimitação geográfica e a segunda, o Rio de Janeiro. Isto se daria pelas diferenças territoriais e naturais?

A resposta a esta e outras perguntas se daria por um debruçar mais aprofundado que também envolveria um olhar qualitativo sobre as obras em questão. Porém, destacamos a importância desse voo inicial como estratégia de abertura de caminhos diversos com trilhas, ainda que para exploração aprofundada a posteriori, para renovação e inovação desse tão consolidado tema no campo dos estudos urbanos.

O UrbanData-Brasil, cuja base de dados foi a principal fonte para a elaboração deste artigo, foi fundado em 1991 por Lícia do Prado Valladares2 com o objetivo de constituir um banco de dados classificado em áreas temáticas que tratam da questão urbana (Valladares; Freire-Medeiros, 2002) e, desde 2015, integra o Centro de Estudos da Metrópole – CEM (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).3 Sua metodologia de classificação é baseada no levantamento de obras bibliográficas em diferentes bases de dados por seus pesquisadores, a fim de que as obras sejam catalogadas de acordo com vocabulário controlado construído pelo próprio grupo. Essa ferramenta é dividida em 35 áreas temáticas4 (Freire-Medeiros; Magalhães, 2019).

Para a realização deste trabalho, foram feitos levantamentos de teses de doutorado em programas de pós-graduação das seguintes disciplinas: antropologia, sociologia, ciência política, planejamento urbano, geografia, história e educação. A escolha por esses campos se deu pela sua tradição de produção na temática dos estudos urbanos (Valladares; Medeiros, 2003), sendo que as duas últimas áreas, embora não tenham contribuições quantitativamente ampliadas sobre a questão, foram relacionadas por serem os campos de atuação profissional e formação do primeiro autor deste trabalho.

Além disso, este artigo está em consonância com a mais recente iniciativa do UrbanData-Brasil: a edição do catálogo digital São Paulo em teses: uma bibliografia analítica (1940-2015), cujo objetivo é reunir as teses de doutorado que versam sobre os espaços e questões urbanas do estado de São Paulo. Assim, nosso levantamento e sistematização sobre os usos das categorias “favelas” e “periferias urbanas” em determinados programas de pós-graduação significou uma parceria frutífera e uma troca de informações.

Tomando como base de dados primária o catálogo de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram levantados trabalhos de doutorado do Brasil inteiro que abordassem “favelas” e “periferias urbanas” nos contextos dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, produzidas entre 1987 e 2015. Esse recorte temporal foi estabelecido com dois objetivos. O primeiro é parametrizar a pesquisa a partir do início da coleta oficial pelo governo federal, representada pelo catálogo da Capes, o que justifica o ano de 1987 ser tomado como marco inicial. O segundo diz respeito à intenção de estabelecer um diálogo maior com o catálogo digital São Paulo em teses, mencionado anteriormente.

Desse modo, aproveitou-se o levantamento já feito sobre a cidade de São Paulo, fazendo uma coleta específica das obras abordadas a fim de selecionar as que tratam de “periferias urbanas” e “favelas”, respeitando-se a data inicial de 1987. O mesmo levantamento foi feito em relação aos trabalhos sobre o Rio de Janeiro dentro dos parâmetros estipulados, sendo escolhido o ano final de 2015, quando se encerra o catálogo digital anteriormente citado, para ampliar a possibilidade de análises comparativas entre as produções sobre o Rio de Janeiro e as presentes no São Paulo em teses. Com esse mesmo interesse de criar frentes de desenvolvimento posterior para o diálogo comparativo com este levantamento sobre São Paulo já realizado pelo UrbanData-Brasil, optou-se pela exclusão das dissertações de mestrado da pesquisa que originou este artigo.

A coleta e sistematização dos dados referentes a essa produção acadêmica valeu-se de linguagem de programação, em especial a R,5 uma linguagem open source voltada a análises estatísticas, mas que também oferece recursos de extração e manipulação de dados textuais (text mining), que foram muito úteis no recorte temático da pesquisa.

Os dados do catálogo de teses e dissertações da Capes são disponibilizados por ano de publicação, em bases de dados que incluem todas as áreas do conhecimento. Utilizou-se o software RStudio6 para padronizar7 e concatenar essas bases, e iniciar o processo de filtragem dos dados, que reduziu gradualmente o escopo até o recorte empírico selecionado. Para se ter uma ideia, entre 1987 e 2015, foram produzidas mais de novecentas mil teses e dissertações nas diversas áreas do conhecimento avaliadas pela Capes. Contudo, ao filtrar apenas teses de doutorado produzidas em programas de pós-graduação em antropologia, sociologia, ciência política, planejamento urbano, geografia, história e educação, chegamos a um corpus de 26.270 produções.

Após essa primeira redução, conduziu-se um trabalho de manipulação com variáveis textuais (strings) de modo a extrair os trabalhos que de debruçassem ao mesmo tempo sobre os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, bem como tratassem dos territórios periféricos e favelas. Essas informações foram buscadas nos campos “título”, “resumo” e “palavras-chave” através da seleção e adaptação de termos pertencentes a três conjuntos semânticos: sobre o estado de São Paulo (“SP”, “São Paulo”, “paulista” e “paulistano”), sobre o estado do Rio de Janeiro (“RJ”, “Rio de Janeiro”, “fluminense” e “carioca”) e sobre os espaços urbanos de moradia popular (“periferia”, “periférico”, “favela” e “quebrada”). Essa operação foi realizada via linguagem de programação e resultou em um corpus de 227 produções acadêmicas.

A última etapa de seleção dos dados se deu por meio da leitura e exclusão manual de título, resumo e palavras-chave de algumas teses, de modo a eliminar os ruídos gerados inevitavelmente pela utilização de seleção artificial por buscas textuais. Essa etapa resultou em 224 produções que foram selecionadas para esta análise: 130 teses sobre favelas e periferias situadas no estado do Rio de Janeiro e 94 no estado de São Paulo.

Após a definição do corpus de análise, prosseguiu-se com a classificação dos trabalhos acadêmicos seguindo os critérios e variáveis próprias do UrbanData-Brasil, como as já citadas áreas: cada produção foi indexada com no mínimo três e no máximo cinco áreas. Também são especificadas as referências espaciais, dentro dos estados escolhidos, e temporais referentes ao recorte empírico desses estudos, além do sexo da autoria. Esse procedimento foi realizado ainda de maneira manual e seu resultado foi sistematizado e, posteriormente, tabulado no software Microsoft Excel. Os gráficos aqui apresentados foram igualmente elaborados nesse último software.

Nesse levantamento, foram incluídos programas de pós-graduação que não pertencem aos estados eleitos como tema de estudo. No caso do Rio de Janeiro, das 130 produções, 111 pertencem a programas no próprio estado, 14 no estado de São Paulo, duas em Minas Gerais, uma no Distrito Federal, uma no Rio Grande do Sul e uma em Pernambuco. Para as favelas e periferias de São Paulo, todas as teses levantadas foram feitas no próprio estado.

Essa divisão por si só gera um dado interessante. Dentro das áreas elencadas, a produção de conhecimento sobre o Rio de Janeiro possui uma concentração no próprio estado, que responde por 85,38% dos trabalhos. São Paulo está representada por 10,77%, enquanto os demais estados possuem uma participação que pode ser considerada ínfima. Ou seja, ainda que em proporção reduzida, nota-se uma abertura de produção científica sobre o Rio de Janeiro feita por instituições paulistas. Inicialmente, chegamos a considerar a hipótese dessa entrada se dar pela possibilidade de estudos comparativos entre os dois estados. No entanto, das 14 produções paulistas, apenas uma realiza uma comparação entre os municípios de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro (Almendra, 2007).

Com isso, podemos notar que a produção sobre favelas e periferias urbanas realizada no estado de São Paulo, nos campos de saber selecionados em pesquisas de doutorado, concentram integralmente as pesquisas sobre o próprio estado, embora exista uma abertura relativamente pequena para que se pense regiões do estado do Rio de Janeiro. Entretanto, não percebemos o mesmo diálogo em relação aos programas do Rio de Janeiro estudados, uma vez que nenhum deles apresentou qualquer produção sobre São Paulo, nem para fins comparativos. Contudo, é importante ressaltar que isto é notado nas teses de todas as unidades da federação estudadas, iluminando a hipótese de que a tendência da reflexão analítica sobre São Paulo e seus espaços de habitação popular, dentre as áreas pesquisadas, seja restrita ao próprio estado.

Com relação ao recorte temporal do trabalho, nem todos o possuíam de forma evidente, retratando um período histórico específico claramente identificado em suas propostas. Muitos se tratavam de pesquisa de campo realizada em longo curso, em uma média de quatro anos, conforme padrão adotado pelos programas de pós-graduação brasileiros. Nesses casos, o critério para o referenciamento temporal foi a adoção do período de duração do próprio curso, baseado no entendimento de que foi quando ocorreram as análises de campo que refletem as conjunturas que permearam a localidade estudada. Para tanto, foi feita uma conferência no currículo Lattes de cada autor.

As “favelas” e “periferias urbanas”: a abordagem das teses

Apresentaremos agora números referentes às teses elaboradas sobre o tema pertinente ao longo do recorte temporal da pesquisa, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. No primeiro caso, entre os anos de 1987 e 1990, temos apenas um trabalho publicado, enquanto nos anos entre 1991 e 1995, 1996 e 2000, 2001 e 2005, 2006 e 2010, 2011 e 2015, constam, respectivamente, 3, 11, 21, 31 e 63. No segundo caso, também temos apenas um trabalho publicado entre 1987 e 1990, enquanto nos anos de 1991 a 1995, 1996 a 2000, 2001 a 2005, 2006 a 2010 e 2011 a 2015, há 2, 9, 25, 31 e 26 teses, respectivamente.

Quadro 1 – Frequência de teses por período de publicação e referencial empírico

Referencial empírico

Período de publicação

Rio de Janeiro

São Paulo

1987-1990

1

1

1991-1995

3

2

1996-2000

11

9

2001-2005

21

25

2005-2010

31

31

2011-2015

63

26



Como podemos averiguar, a trajetória das teses sobre o tema nos dois estados caminha de forma quase equânime até 2010. Nos dois casos, se formos comparar as diferenças quantitativas entre os quinquênios de 1996 a 2000 e 2001 a 2005, vemos que o número de produções praticamente dobra. Tal quadro se insere no contexto de crescimento do número de cursos de pós-graduação neste mesmo período, uma vez que, nos anos de 2000, 2005 e 2010, o Brasil apresentava as seguintes quantidades de cursos de pós-graduação stricto sensu em todas as áreas, em instituições públicas e privadas: 2.249, 3.121 e 4.294 (Cirani; Campanário; Silva, 2015, p. 171). Ainda assim, devemos refletir sobre as hipóteses para o aumento do número das teses sobre periferias nesses estados, uma vez que entre os anos 2000 e 2005 ele mais que dobra e depois mantém uma tendência de ampliação.

Cremos que um ponto importante para se chamar atenção é a criação do Ministério das Cidades em 2003, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), com o objetivo de suprir a lacuna perante a histórica falta de atuação do Estado brasileiro no campo da promoção do desenvolvimento urbano justo e equilibrado.8 Seu surgimento foi precedido pelo Estatuto das Cidades, editado como lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, fruto de amplo debate de movimentos sociais e setores acadêmicos envolvidos na temática (Moscarelli; Kleiman, 2017).

O Ministério das Cidades é um dos elementos centrais para se pensar em uma conjuntura federal de reflexão sobre os espaços urbanos e seus fatores de desigualdade, dos quais as periferias urbanas e favelas são atores representativos. Contudo, apesar do reconhecimento do tratamento desigual por parte do Estado e da sociedade civil, é importante ressaltar abordagens analíticas que enxergam essas áreas não apenas pelo viés da falta. Pensadas como temas de estudo, essas localidades têm sido igualmente percebidas como potência de formas alternativas de organização, mobilização e produção cultural, além de não mais serem interpretadas como “rincões concentradores de pobreza” (Valladares; Préteceille, 2000; Aderaldo, 2013; D’Andrea, 2013).

Mesmo que esse ministério tenha influenciado o surgimento de uma nova conjuntura nacional para o debate urbano, e não apenas sobre políticas públicas, é preciso estar atento para os contextos regionais dessa mesma discussão. Outros fatores conjunturais atuaram para o encaminhamento de questões, intelectuais e práticas, em cada realidade urbana de um território nacional já tão marcado pela diversidade. Portanto, cremos que outro fator a ser considerado é a questão dos chamados megaeventos internacionais.

Entre esses eventos estão os XV Jogos Pan-Americanos (2007), a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. É fundamental ressaltar que os dois primeiros e o último ocorreram somente no Rio de Janeiro. Ou seja, ainda que de certa forma tenha algum impacto de mobilização do território brasileiro, a exemplo da mobilidade de turistas e da própria imagem do país circulando na imprensa internacional, seus efeitos se sentem principalmente na urbe carioca. Todos esses eventos geraram um amplo questionamento por parte de diversos movimentos sociais, devido às transformações estruturais no espaço das cidades. Essas alterações, por sua vez, resultaram em remoções de áreas de favelas, dentre outros fatores, sendo o caso da Vila Autódromo9 o mais emblemático, bem como protestos diversos em espaços públicos.

Esse cenário foi pano de fundo para um determinado tipo de produção sobre o urbano no Rio de Janeiro na conjuntura temporal apontada. Podemos chamar atenção para uma série de pesquisadores pertencentes ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ). Suas obras analisam os interesses econômicos como determinantes fundamentais nas intervenções e reformulações da cidade (Gaffney et al., 2015). Com essa influência, seria possível perceber o espaço urbano a partir de uma dinâmica de segregação aprofundada, presente nas remoções, políticas de construção de habitação popular e de repressão via segurança pública, criando uma “cidade de exceção” (Vainer, 2011). No entanto, é preciso ter o cuidado de perceber a cidade como um espaço no qual se desenvolvem muitas temporalidades e processos em choque, para que não sobressaia a impressão da conjuntura dos megaeventos como inauguradora ou necessariamente intensificadora dos processos de segregação oriundos de projetos específicos de cidade.

Apesar do Rio de Janeiro ser afetado por mais de um evento, precisamos ter em mente que a Copa do Mundo de 2014 impactou outros municípios brasileiros, uma vez que equipamentos urbanos e esportivos foram construídos em outras das chamadas “cidades-sede”. O plano municipal de desenvolvimento turístico de São Paulo chegou a prever sua consolidação como destino de viagem focado em cultura, lazer e entretenimento (Netto, 2016). As remoções também estão presentes na São Paulo capital, como as que ocorreram por conta da obra para a construção do Parque Linear Várzeas do Tietê, responsável pela remoção de quatro mil famílias e ações de truculência policial em locais como a Chácara das Três Meninas, bairro de periferia da Zona Leste paulistana (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, s.d., p. 25). Desse modo, partimos do ponto de que, embora muitos dos trabalhos que serão apresentados não tratem desses temas diretamente, foram influenciados por um quadro de problemáticas sociais e econômicas por eles desenhados.

Serão agora analisados dados sobre como cada programa de pós-graduação das áreas disciplinares em questão realizou suas produções no âmbito desse debate:

Gráfico 1 – Relação de teses produzidas por programa e ano com referencial empírico no estado do Rio de Janeiro


Gráfico 2 – Relação de teses produzidas por programa e ano com referencial empírico no estado de São Paulo




Dentre os campos de saberes aqui pesquisados, embora tenham se verificado 32 programas de pós-graduação que publicaram pelo menos uma tese sobre os espaços de moradia popular do Rio Janeiro e 25 sobre São Paulo, quando filtramos programas que publicaram pelo menos três teses (Gráficos 1 e 2), temos apenas 14 programas de pós-graduação para o caso do Rio de Janeiro e 11 para São Paulo. Como já foi mencionado, é possível observar como os principais programas levantados estão concentrados no mesmo estado que suas referências empíricas.

O campo científico é um universo com uma dinâmica própria de alta complexidade, no qual se notam disputas que vão do aspecto técnico-científico a políticas de financiamento para pesquisas e bolsas para estudantes. Nesse cenário, entender como cada programa surge e se consolida já significaria um objeto de estudo à parte, que não permite comentários mais aprofundados com base nos resultados por ora apresentados, justamente pela riqueza e densidade do assunto. Porém, alguns exemplos podem ser usados para iluminar possibilidades de reflexão pensando-se a trajetória desses mesmos programas.

No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, temos a contabilização de dois programas: o antigo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iuperj) e o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O primeiro foi um dos principais pilares de consolidação da pós-graduação brasileira no final dos anos 1970, pertencendo à Universidade Cândido Mendes (Ucam), tradicional instituição privada de ensino carioca. O segundo, conforme conhecimento público, surge em 2010 como um grupo de professores dissidentes do primeiro em um cenário de grave crise econômica da Ucam, que levou ao desmonte de infraestrutura de trabalho e atrasos salariais. Em um movimento cercado de polêmicas na comunidade científica, seus docentes foram integrados a um novo programa, passando a fazer parte da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mais uma vez, não nos compete aqui analisar as tensões presentes nesse acontecimento, mas apenas chamar atenção para como a convivência entre esses cursos é permeada por especificidades e relações complexas.

Outro exemplo que pode ser citado é o fato, até surpreendente, de certa forma, de que nenhum programa de São Paulo tenha sido localizado na área de planejamento urbano. Se pensarmos comparativamente com o Rio de Janeiro, nós temos o Ippur/UFRJ, um dos mais tradicionais institutos de pesquisa sobre o urbano, cuja pós-graduação existe desde 1971. A Universidade de São Paulo possui a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), outro núcleo produtor de conhecimento e ensino de grande importância para o pensamento urbanístico. No entanto, ao utilizar o critério de selecionar o campo do planejamento urbano, suas produções acabaram não sendo coletadas pelo levantamento, uma vez que são cadastradas na área de Arquitetura, Urbanismo e Design na Capes.

Isto não chega a se tornar um empecilho metodológico, uma vez que outras tradicionais áreas de conhecimento, como a sociologia e a geografia, foram contempladas, contribuindo para um mapeamento de como as periferias e favelas são estudadas por elas. Com isso, chamamos atenção para o peso da produção do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para mostrar como esse campo tem construído essas áreas urbanas como objeto, e seu diálogo com outras disciplinas nesse movimento, com possibilidades comparativas com o próprio Ippur/UFRJ e a área de planejamento urbano. Contudo, tendo em vista a relevância da FAU-USP para o debate sobre a categoria periferias urbanas, através de autores como Ermínia Maricato, Nabil Bonduki e Raquel Rolnik (Tanaka, 2006), essa faculdade e seus programas de pós-graduação serão objetos futuros de pesquisa, até para se obterem parâmetros comparativos com as teses produzidas pelo Ippur/UFRJ, debate com grande potencial de contribuição para se pensar como os estudos urbanos sobre os espaços de moradia popular têm sido conduzidos por essas duas tradicionais instituições.

Pensemos os quatro programas que mais produziram as teses aqui analisadas, tanto do Rio de Janeiro quanto de São Paulo. No primeiro estado, temos o programa do Ippur/UFRJ, o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da Uerj, o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da UFRJ e o Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), da mesma universidade. No segundo, o Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais (PEPGCS) da PUC-SP e os programas de pós-graduação em Geografia Humana (PPGH), Sociologia (PPGS) e Educação da USP.

As 15 teses produzidas pelo Ippur/UFRJ tratam sobretudo de espaço urbano e habitação, de acordo com as áreas temáticas do já citado vocabulário controlado do UrbanData-Brasil. O instrumento permite a interpretação do espaço urbano como elemento definidor de relações sociais, bem como a identificação dos fatores que influenciam na construção e reprodução de áreas da cidade, assim como locais que podem ser considerados centrais e periféricos no sentido de oferta de infraestrutura, empregos e equipamentos coletivos de saúde, educação e cultura. A temática da habitação, por sua vez, pode ser vista como caminho interpretativo para as formas de habitar e ocupar localidades urbanas, e ainda para a produção e autoprodução de moradias e as complexidades dos locais de habitação popular.

Nesse sentido, temos casos de produções que abordam as infraestruturas de favelas e impactos sociais e econômicos de programas de urbanização, bem como a configuração do mercado imobiliário formal e informal (Faria, 2004; Fernandes, 2006; Silva, 2012; Gomes, 2014; Olinger, 2015). Nesse escopo, existem estudos comparativos de metrópoles (Garcia, 2006) ou de fluxos migratórios entre a região Nordeste e a capital fluminense (Oliveira, 2015). Há, igualmente, trabalhos relevantes sobre a dimensão espacial da identidade social, bem como o universo do direito que se (re)constrói a partir das configurações sociais e culturais dessas áreas (Magalhães, 2010).

Com relação ao PPCIS-Uerj, os principais temas abordados dizem respeito à pobreza e desigualdade, e à violência. De acordo com o vocabulário controlado do UrbanData-Brasil, o primeiro assunto refere-se à espacialização de recursos econômicos, sociais e políticos e seus impactos na dinâmica urbana, resultando em diferentes vetores de segregação. Já o segundo, aborda crimes, práticas e grupos criminosos, e a espacialização de suas ocorrências e atuações, bem como formas de violência doméstica e grupos sociais diversos, como LGBTQI+ e idosos. Nesse sentido, podemos destacar trabalhos que tratam da relação entre violência e racismo (Silva, 2005), acontecimentos traumáticos, como a Chacina de Vigário Geral (Ferraz, 2004), análise de programas no campo da segurança pública, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) (Carvalho, 2014), mas também estudos sobre lideranças comunitárias (Souza, 2009), gênero e cultura popular (Mattos, 2014) e religiosidade (Cunha, 2009).

No tocante ao PPGG-UFRJ, as áreas temáticas espaço urbano e pobreza e desigualdade são as mais recorrentes, podendo ser destacados estudos que abordam a historicidade da produção espacial das favelas (Silva, 2003), como o estigma da violência contribui para a segregação espacial (Fernandes, 2009) e as relações de trabalho e os movimentos sociais (Ramos, 2012). Sobre o PPGSA-UFRJ, os principais temas abordados dizem respeito ao modo de vida, imaginário social e cotidiano e violência. Se formos comparar com a produção do PPCIS-Uerj, não notamos tanta diferença, uma vez que o assunto pobreza e desigualdade também é recorrente, estando apenas um pouco abaixo das duas outras áreas temáticas. Nesse conjunto, temos teses que tratam da construção de representações da imprensa sobre a violência relacionada ao tráfico de drogas (Leite, 2001), além de etnografias para o entendimento do próprio funcionamento interno dessas quadrilhas (Grillo, 2013) ou de suas relações com grupos como evangélicos e agentes sociais (Teixeira, 2013).

Analisemos, agora, as áreas temáticas que apareceram mais de dez vezes quando consideramos os 130 trabalhos produzidos sobre o Rio de Janeiro:

Gráfico 3 – Áreas temáticas mais frequentes relacionadas ao referencial empírico no Rio de Janeiro




Podemos perceber o aparecimento da área temática modo de vida, imaginário social e cotidiano como principal assunto abordado. No total absoluto, também se nota a importância de temas relativos ao espaço urbano, pobreza e desigualdade, e violência, presentes nos programas enfocados acima. Segundo o vocabulário controlado utilizado, em modo de vida, imaginário social e cotidiano, tomam-se por objeto de reflexão estilos de vida, experiências de cidade, sociabilidade, relação entre espaço e corpo, hábitos, normas, valores, práticas, marcas simbólicas e representações na urbe.

Ou seja, trata-se de uma percepção valorizada da vivência cotidiana e de seus inúmeros objetos de geração de afetos como também de disputas simbólicas, lembrando uma interpretação de cidade presente em diferentes tradições teóricas que podem remeter de Michel de Certeau a Henri Lefebvre, além da influência da Escola de Chicago e da antropologia cultural. E por mais que essa área temática não seja predominante nas teses mencionadas acima, pode-se notar a importância de seu campo em estudos que refletem sobre a influência de representações relativas a violência e segregação urbana (Fernandes, 2009), gênero e cultura popular (Mattos, 2014), religiosidade e sentimento de segurança em situações de conflito armado (Cunha, 2009) ou como a sociabilidade atua na construção de um quadro específico para concepção e operacionalização do direito (Magalhães, 2010).

Com relação aos dados referentes à produção sobre São Paulo (Gráfico 2), o primeiro fator a chamar atenção é o quantitativo das obras produzidas pelo PEPGCS da PUC-SP. Com 25 teses, é o programa de doutorado que mais produziu sobre esse estado, precedido pelos cursos de Geografia Humana (dez), Sociologia e Educação da USP (oito, ambos). Se formos comparar com os números sobre o Rio de Janeiro (Gráfico 1), temos uma certa equivalência entre o segundo e o terceiro programas em volume de trabalhos (PPCIS-Uerj, com 11, e PPGG da UFRJ, com 10).

No entanto, temos uma leve distância entre os programas da PUC-SP (25) e do Ippur/UFRJ (15), sendo que chama atenção que a produção do segundo é potencializada entre os anos de 2011 e 2015 (8 teses), enquanto a do segundo se concentra entre 2001 e 2005 (11) e 2006 e 2010 (9). Tais dados nos levam a pensar hipóteses sobre como a conjuntura dos megaeventos, mais acentuada no Rio de Janeiro, pode ter afetado a produção local, bem como se a criação do Ministério das Cidades não teria surtido o mesmo efeito no estado de São Paulo.

Ainda sobre as obras da PUC-SP, as principais áreas temáticas abordadas são pobreza e desigualdade, e modo de vida, imaginário social e cotidiano. Assim, temos uma sugestão de tratamento da problemática da desigualdade social através de seus impactos nas vivências do dia a dia e por meio de obras de temas diversos, como imigração, redes de socialização de nordestinos e identidade feminina (Batista, 1998; Galhano, 2001), regularização fundiária, loteamentos informais e direito à cidade (Victoriano, 2005), juventude, violência e função social da escola (Camargo, 2002).

No tocante à produção do PPGHS-USP, áreas temáticas como pobreza e desigualdade; estrutura social; habitação; políticas públicas; e processos de urbanização ganham maior destaque. Estrutura social é uma abordagem que possui semelhanças com pobreza e desigualdade, ao tratar de temas relativos a estratificação social, divisão social do trabalho e distinções entre subgrupos no espaço urbano. Tratando assuntos relativos às formas de vivenciar e produzir formatos de habitação, bem como às políticas públicas para acesso à infraestrutura e habitabilidade, além dos processos em larga escala de produção do espaço das cidades, como conurbação, suburbanização e periferização, vê-se um quadro ampliado para se pensar a cidade. Assim, temos um panorama no qual foram desenvolvidos trabalhos que versam sobre temas como as hiperperiferias e os meios de produção e reconstrução dessas áreas de habitação popular (Carvalho, 2011), incluindo a temática étnico-racial (Carril, 2003), a regularização fundiária (Ribeiro, 2012) e a relação entre políticas de urbanização e turismo nesses locais singulares (Siqueira, 2007).

No que diz respeito ao PPGS da USP, as principais áreas temáticas localizadas foram espaço urbano; ideologia e política; e pobreza e desigualdade. Sobre o primeiro e o terceiro temas, já foram tecidos comentários, enquanto o segundo, ainda de acordo com o vocabulário controlado do UrbanData-Brasil, aborda a participação do Estado e a execução de políticas urbanas, arranjos político-institucionais, formas de governo e gestão das cidades, governança urbana, espaço e esfera pública e bens comuns. Ou seja, podemos pensar em um panorama geral que trate o espaço urbano através de seus formatos de sociabilidade e processos de produção e reprodução, aliados a modelos de ação estatal e gestão do espaço urbano em um contexto de desigualdade social. Nesse panorama, temos obras que analisam a relação entre miséria e cidadania (Silva, 1996), as relações sociais envolvidas na prática cotidiana do habitar (Schrijnemaekers, 2011) e produção artística, seja a partir da sociologia histórica da arte (Urcci, 2009) ou da produção cultural de grupos periféricos (D’Andrea, 2013).

Com relação ao Programa de Pós-Graduação em Educação da USP, temos uma mudança de perfil das áreas temáticas abordadas, uma vez que surgem infância e juventude, e infraestrutura urbana, serviços urbanos e equipamentos coletivos. Essa variação é importante, pois traz as crianças e adolescentes como objetos estudados a partir do espaço escolar, principal equipamento coletivo abordado, o que abre a possibilidade de novos caminhos de reflexão sobre as favelas e periferias urbanas. Nesse universo, podemos destacar temáticas sobre a violência escolar e os movimentos populares, a exemplo dos ligados ao hip-hop, principalmente na figura dos Racionais MC’s, e formas de apropriação dessa vertente artística tanto pelos jovens como pelos professores, como ferramenta pedagógica (Sposito, 1989; Gonçalves, 2001; Lara, 2001).

Semelhantemente ao que foi feito no caso do Rio de Janeiro, consideremos as áreas temáticas que aparecem mais de dez vezes quando acrescentamos as teses de todos os programas de São Paulo:

Gráfico 4 – Áreas temáticas mais frequentes relacionadas ao referencial empírico em São Paulo




Como podemos ver, as teses produzidas pelos programas que mais apresentaram trabalhos na temática pesquisada se alinham a tal configuração. O tema da pobreza e desigualdade está presente em peso nos três primeiros, com variações que passam por espaço urbano, modo de vida, imaginário social e cotidiano, políticas públicas e estrutura social. É interessante notar, da mesma forma, as similaridades entre as teses sobre o Rio de Janeiro (Gráfico 3), cujas quatro principais abordagens dizem respeito a modo de vida, imaginário social e cotidiano; espaço urbano; pobreza e desigualdade; ideologia e política. São praticamente as mesmas dos trabalhos sobre São Paulo, apenas diferenciando-se políticas públicas (SP) de ideologia e política (RJ). Porém, essas duas são temáticas muito semelhantes, sendo que a primeira foca mais projetos que de fato foram concretizados como ações de governo, enquanto a segunda pensa arranjos políticos e formas de gestão de maneira mais ampliada.

Em ambos os casos, temos ainda uma forte percepção, pelo que se pode ver nas teses consultadas, dos espaços de habitação popular em questão como locais definidos pela pobreza e desigualdade. Neste caso, cabe demonstrar a característica regional das categorias favelas e periferias urbanas. Quando fazemos a pesquisa desses termos como palavras-chave nesses trabalhos, no caso do Rio de Janeiro, a palavra “favelas” figura em primeiro lugar, enquanto seu singular encontra-se em quarto, num total de 752 palavras-chave. Já “periferia” está em 94º, não se localizando nem seu plural nem o termo “periferia urbana”. No caso de São Paulo, o quadro se inverte, com “periferia” constando como primeiro e “favela” em 17º. Já as formas no plural dos termos estão, respectivamente, em 36º e 33º.

Ou seja, isso mostra a forte carga regional dessas expressões para se pensar locais de habitação popular com forte peso histórico da autoconstrução. No caso do Rio de Janeiro, desde os primeiros anos do século XX, o termo favela tem sido utilizado para espaços de moradia popular de autoconstrução. A palavra tem grande peso simbólico, uma vez que remete à Guerra de Canudos e ao simbolismo de desafio à ordem republicana então recém-estabelecida, recebendo da imprensa e de formuladores de políticas públicas forte carga negativa (Valladares, 2005).

Nos anos 1990, é possível encontrar uma interpretação desses espaços não apenas como lócus da miséria e da ausência de participação positiva do Estado. Segundo tal visão, essas localidades não mais seriam os principais concentradores dos índices de pobreza, mas consistiriam em nascedouros de diferentes processos de mobilização e iniciativas privadas da economia popular, constituindo territórios marcados por significativas formas de autonomia e participação (Valladares; Préteceille, 2000). Essa interpretação é importante, pois permite se pensar na hipótese de que a pobreza e desigualdade como viés de percepção das favelas não se limita aos aspectos negativos, podendo abarcar igualmente formas de resistência e organização popular.

É possível traçar um paralelo no caso de São Paulo. Nas décadas de 1970 e 1980, temos a predominância de estudos que privilegiam certas abordagens de foco econômico centradas em uma certa “ausência do Estado”, à exceção de políticas de habitação popular. Contudo, mais recentemente, tem sido possível notar um olhar interpretativo que alia questões da estrutura econômica com as potencialidades de agência desse grupo social (Marques; Bichir, 2001). Assim, pode-se observar o reforço da abordagem desses espaços como polissêmicos e plurais, com novos objetos de estudo como a violência urbana e o movimento hip-hop e uma “cultura da periferia” (Frúgoli, 2005).

Desse modo, é importante entender as cores regionais que tais categorias assumem como decorrentes da forma como os campos disciplinares em questão nesses dois estados têm historicamente estudado as áreas de habitação popular. Essas denominações são elementos que entrelaçam os espaços a serem analisados, seus processos de consolidação sócio-histórica e o conhecimento científico-acadêmico sobre eles, mostrando-se importantes para se pensar a caminhada conjunta da realidade social e da teoria que a interpreta.

No entanto, seria interessante avaliar possíveis pontes entre ambas. Nem a periferia urbana paulista, nem a favela carioca constituem espaços homogêneos, como as principais obras sobre o tema sempre reforçaram. É essencial pensar as subdivisões dessas áreas e as diferenças entre elas de acordo com as zonas urbanas que ocupam. Que espaços de informalidade fundiária em determinada periferia de São Paulo poderiam fazer com que estes sejam considerados como favelas? Ou, no caso do Rio de Janeiro, uma favela localizada no aristocrático bairro do Leblon teria as mesmas características de uma área semelhante em um bairro pauperizado da Zona Oeste carioca?

Esses questionamentos são importantes para se entender não apenas uma pluralidade espacial interna, mas as próprias diferenças entre as regiões de habitação popular de acordo com sua localização. Revelam, igualmente, a proficuidade de se pensar de forma paralela ambas as categorias e suas tradições de estudo de acordo com seu desenvolvimento regional.

Serão agora estabelecidas algumas correlações sobre o perfil dos autores dessas teses no que se refere ao gênero.10 Sobre São Paulo, temos 56% das teses escritas por mulheres e 44% por homens. Sobre o Rio de Janeiro, o quadro é praticamente idêntico, com 57% sendo mulheres e 43% homens. Se nos aprofundarmos no perfil de acordo com a área de conhecimento dos programas, o resultado encontrado é o seguinte, tendo cada estado como tema de estudo:

Gráfico 5 – Relação entre área do conhecimento e sexo de autoria sobre São Paulo




Gráfico 6 – Relação entre área do conhecimento e gênero de autoria sobre Rio de Janeiro




Alguns dos resultados obtidos dizem respeito à própria trajetória histórica de cada área disciplinar. Por exemplo, a predominância feminina no campo da educação é uma característica intrínseca a ele. No século XIX, este era um universo predominantemente masculino, mas ao longo do XX apresenta uma inversão de perfil relacionada à desvalorização salarial e de status social, além de um crescente sentido de moralização e associação do magistério a uma extensão da ideia de “família”. Em história, sociologia e geografia, é possível encontrar certa equidade nos dois casos. Porém, creio ser interessante notar o predomínio de mulheres nas áreas de antropologia e planejamento urbano, principalmente na segunda, tradicionalmente ligadas a objetos de administração pública comumente estudados por homens. O caso da ciência política no Rio de Janeiro deve ser relativizado, uma vez que se trata de um único trabalho.

Quando direcionamos o foco para as áreas temáticas estudadas por gênero de autoria, sobre Rio de Janeiro e São Paulo, encontra-se este panorama:

Gráfico 7 – Relação entre áreas temáticas e gênero por autoria sobre Rio de Janeiro




Gráfico 8 – Relação entre áreas temáticas e gênero por autoria sobre São Paulo




Nesses resultados, podemos notar algumas áreas com ampla predominância masculina e feminina. Por exemplo, serviços, espaços e práticas de lazer são tratados igualmente por homens quando retratamos os dois estados, enquanto gênero e sexualidade é um tema abordado exclusivamente por mulheres nos trabalhos sobre São Paulo e de forma amplamente majoritária nos equivalentes sobre o Rio. Pode-se pensar em hipóteses relativas a identidades e preconceitos sobre a função do corpo historicamente arraigados na cultura brasileira, uma vez que temos a área temática que concentra, muitas vezes, práticas esportivas e de lazer fundamentalmente estudadas pelo gênero masculino, já aquela que aborda o corpo pelo viés da sexualidade, com possibilidades de se relacionar com a temática LGBTQIA+, torna-se um universo feminino. Porém, temos igualmente algumas inversões interessantes, com os temas de administração e finanças públicas sendo estudados por homens nos trabalhos sobre o Rio de Janeiro e por mulheres, sobre São Paulo. Situação semelhante é vista em setor informal/informalidade. No entanto, essas pistas trazidas à luz pelo levantamento quantitativo mereceriam uma pesquisa à parte, contemplando também uma análise qualitativa, com o estabelecimento mais sólido de hipóteses para o entendimento de como o gênero se relaciona com a escolha de temas de pesquisa sobre favelas e periferias urbanas.

Considerações finais

Como afirmado no início do artigo, o objetivo não foi de apresentar conclusões pretensamente absolutas e fechadas. Nosso esforço pretendeu sugerir hipóteses interpretativas e descortinar certos traçados sobre como as áreas em questão têm tratado o tema das favelas e periferias urbanas em suas teses de doutorado. Dito isso, a partir dos resultados expostos, podemos tecer algumas observações. No que diz respeito às áreas disciplinares, temos o peso da participação dos programas de ciências sociais, sobretudo sociologia e antropologia, com algumas diferenças locais, como é o caso do planejamento urbano no Rio de Janeiro e da educação em São Paulo.

No que diz respeito aos temas de estudo, catalogados de acordo com as áreas temáticas do vocabulário controlado do UrbanData-Brasil, pobreza e desigualdade compõem um forte viés de estudos sobre os locais de habitação popular em questão, mais uma vez sendo possível destacar diferenças regionais. Tal afirmação se baseia na importância de teses que abordam a violência no Rio de Janeiro, quarta principal área temática das produções referentes a esse estado, ocupando, por outro lado, apenas o nono lugar entre as produções sobre São Paulo. No entanto, nos dois casos merecem atenção os estudos que refletem sobre as representações acerca desses espaços, bem como a vivência cotidiana de seus habitantes e seus significados culturais, assim como a organização política pensada em termos de mobilização local ou concretizada em políticas públicas. Também notamos um caminho interessante quando são pensados os temas a partir do gênero de seus autores, como uma hipótese sobre a diferença ao se tratar de práticas que podem ser relacionadas a uma noção de corpo, seja através da chave de espaços de lazer, notadamente abordada por homens, seja através do olhar da sexualidade, campo de estudos marcado por mulheres.

Entretanto, uma marcante contribuição da pesquisa foi o mapeamento das especificidades regionais presentes nas categorias “favelas” e “periferias urbanas” nas quatro grandes áreas selecionadas. Essas características dizem respeito não apenas a abordagens disciplinares, teóricas e metodológicas, mas carregam as cores históricas da própria construção social e histórica dos espaços de habitação popular em cada uma dessas regiões. O investimento nas pontes entre essas duas abordagens tem o potencial de trazer uma grande contribuição para iluminar ainda mais a complexidade interna dessas localidades e suas relações com o espaço urbano.

Desse modo, conforme visto, a cidade é um rico campo de estudos para se pensar não apenas suas fronteiras, mas a sociedade como um todo. Seu espaço é dotado de clivagens construídas por características estruturais e permeadas por diferentes tipos de interesses e conflitos. Os locais de moradia popular são fundamentais para o debate sobre a problemática urbana, pois se constituem em áreas de controle de fluxo e formas de reprodução sob o signo da precariedade, mas também de meios de resistência e de apropriação, bem como de construção e consolidação de padrões de solidariedade próprios e específicos. Contudo, não devemos ver esses espaços como homogêneos ou desprovidos de tensões internas, conforme a própria bibliografia anteriormente explorada indica. O aperfeiçoamento e refinamento da reflexão sobre essas áreas é vital para o melhor entendimento de sua relação com a cidade, bem como para o embasamento de proposições e formas de atuação nesse campo. Desse modo, cremos ser bastante profícua a reflexão conceitual das categorias “favelas” e “periferias urbanas”, e acreditamos que elas podem ser desenvolvidas pensando-se as diferentes realidades a partir das quais foram produzidas.

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Recebido 13/9/2022

Aprovado 21/11/2022


Notas

1    Este trabalho resulta de pesquisa de pós-doutorado desenvolvida pelo autor principal no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP, contando com apoio do CNPq. Gostaríamos de agradecer à professora doutora Bianca Freire-Medeiros, bem como aos estudantes e bolsistas de graduação que participam do projeto.

2    Socióloga, foi um dos maiores nomes dos estudos urbanos brasileiros. Suas pesquisas, a partir do final dos anos 1960, junto a nomes como Luiz Antônio Machado da Silva, foram determinantes para a consolidação das favelas como objeto de estudo das ciências sociais. Dentre seus inúmeros trabalhos de destaque, gostaríamos de chamar atenção para aqueles que realizam uma abordagem histórica das favelas desde o início do século XX (Valladares, 2005), dialogando com possibilidades de abordagens e problematizações desses espaços pelos historiadores.

3    Desde então o UrbanData-Brasil está sediado no Laboratório de Pesquisa Social do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (LAPS/USP), sob coordenação de Bianca Freire-Medeiros. Para mais informações sobre o banco de dados, ver https://urbandatabrasil.fflch.usp.br/.

4    São elas: administração e finanças públicas; arte e estética; construção civil; espaço urbano; estrutura social; estrutura econômica e mercado de trabalho; estrutura regional e metropolitana; evolução urbana; fluxos populacionais e migrações; gênero/sexualidade; habitação; ideologia e política; infância e juventude; infraestrutura urbana, serviços urbanos e equipamentos coletivos; meio ambiente e qualidade de vida; memória, preservação e patrimônio; mídia e comunicação; mobilidade urbana; modo de vida, imaginário social e cotidiano; movimentos sociais; novas tecnologias e meio urbano; ongs e terceiro setor; planejamento urbano; pobreza e desigualdade; poder local e gestão urbana; políticas públicas; processos de urbanização; relações étnico-raciais; religiões, rituais e comemorações; serviços, espaços e práticas de lazer; serviços, espaços e padrões de consumo; setor informal/informalidade; solo urbano; turismo e cultura de viagem; violência.

5    Para saber mais sobre a iniciativa R, ver https://www.r-project.org/.

6    Trata-se de um software livre que se baseia na linguagem de programação R. Para mais informações, ver https://www.rstudio.com/.

7    As bases anuais disponibilizadas pela Capes assumem uma configuração de variáveis distintas para os períodos de 1987 a 2012 e de 2013 em diante.

8    Em 2019, o Ministério das Cidades foi fundido ao Ministério da Integração Nacional, resultando na criação do Ministério do Desenvolvimento Regional.

9    Favela localizada no bairro de Jacarepaguá, nas proximidades do Parque Olímpico. Em 2014, sob o segundo governo municipal de Eduardo Paes (2012 a 2016), foi alvo de remoção que retirou a maior parte de suas famílias, deixando os remanescentes vivendo sob escombros e grande precariedade de acesso a serviços, como saneamento, como forma de pressão. Para uma análise mais aprofundada da questão e da memória de mobilização local, ver Bogado (2017).

10    Para identificação do sexo da autoria, o UrbanData-Brasil segue a abordagem da heteroidentificação a partir dos nomes que constam nos documentos. Além disso, trabalha-se apenas com duas categorias binárias, masculino/homem e feminino/mulher, não abrangendo outras possibilidades de identificação de gênero.



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